Conheça os bastidores da expedição de João Cosme para fotografar a cabra-montês na Serra do Gerês

João Cosme, fotógrafo de natureza, tem uma missão: retratar a cabra-montês ao longo das várias estações do ano, no âmbito do projecto REALCES. Este mês esteve na Serra do Gerês e trouxe de lá fotografias espantosas.

A cabra-montês (Capra pyrenaica) é a protagonista de uma história de regresso da natureza.

Depois de se ter extinguido em Portugal no século XX, devido ao excesso de caça, em 1999 foram avistadas cabras nas serras Amarela e do Gerês, animais que terão fugido dos cercados instalados na serra do Xurês, na Galiza, no âmbito de um projecto de reintrodução da espécie.

A pouco e pouco, a espécie conquista territórios.

O fotógrafo de natureza João Cosme está a retratar a cabra-montês ao longo das estações do ano, no âmbito do projecto REALCES. É “um projeto conjunto com outros amigos fotógrafos. É a visão de seis fotógrafos, cada um com a sua perspetiva de uma região ou espécie, e tem como objetivo final a edição de um livro e a promoção do património natural do nosso país.

Neste Outono, no início do mês de Novembro, João Cosme foi até à Serra do Gerês à procura da cabra-montês. E conseguiu encontrar estes espantosos animais.

A primeira imagem, com tons de outono, foi “captada ao final do dia, aproveitando o animal numa posição interessante e com o fundo repleto de cor e luz, realçando assim a fotografia”, explicou à Wilder João Cosme.

Segundo este fotógrafo de natureza, “uma imagem nunca pode ser avaliada apenas pelo protagonista dessa foto, mas pelo conjunto do fotograma no seu total. A luz, o fundo, a cor e a posição do animal acabam por ser uma mais valia nesta imagem”.

Fazer o retrato de espécies selvagens na natureza é um trabalho moroso e, por vezes, penoso. Conseguir encontrar os animais é um dos desafios.

“Esta espécie ocorre em vários pontos do Parque Nacional da Peneda-Gerês, mas o local que mais gosto de explorar e já o faço há mais de oito anos, é a serra do Gerês, na zona de Pitões das Júnias, um dos locais mais belos do PNPG e de Trás-os-Montes”, explicou o fotógrafo.

“Para conseguir alcançar estes animais é necessário fazer grandes caminhadas”, contou. “A dificuldade é o terreno acidentado e carregar a mochila com cerca de 20 kg de material fotográfico é cansativo. Mas acaba por ser gratificante quando podemos estar a escassos metros de uma espécie emblemática na nossa fauna.”

Segundo João Cosme, fotógrafo que já se tem dedicado ao lobo-ibérico e ao melro-d’água, “os locais onde estes ungulados habitam são inóspitos e com grandes aglomerados de rochas graníticas, alguns com dezenas de metros”.

O que é preciso para fotografar a cabra-montês?

Antes de mais, antes até de sair para o campo, “devemos ter em conta vários factores, entre eles a meteorologia, o relevo do terreno e só depois fazer um planeamento do que se pretende”.

Neste caso, João Cosme já sabia o que lhe interessava fotografar e o que tinha falhado nas suas últimas visitas. “Por isso, o objetivo era filmar/fotografar o comportamento entre machos e fêmeas nesta época de cio e mesmo assim, acabou por não ser como gostava. Mas teve situações muito interessantes.”

Além disso, é preciso ter muito cuidado. “Não arriscar quando não se conhece (o terreno) e evitar as falésias mais abruptas. Neste caso, a dificuldade é sempre o peso que transportamos e os quilómetros que percorremos a pé. O resto são cuidados a ter aqui e noutros lugares mais selvagens, para evitar os acidentes.”

Quanto ao material fotográfico usado, João Cosme aconselha a demorar o tempo necessário a escolher objectivas e tripés, por exemplo.

“Depende sempre do que pretendemos fotografar, se queremos ambiente ou grandes planos. Por isso, um planeamento é sempre importante quando fazemos uma saída para o terreno.”

Neste caso em concreto, “utilizei uma 500mm f/4 da Sigma (nas imagens do artigo) e uma 70-200mm f/2.8 da Sigma para paisagens e aspectos do comportamento deste animal no seu ambiente. O tripé é um elemento muito importante para este tipo de trabalho, o melhor aliado do fotógrafo.”


Saiba mais.

Actualmente, uma equipa de investigadores de várias entidades, incluindo universidades, está a actualizar o estatuto de conservação da cabra-montês em Portugal e de outras cerca de 70 espécies, no âmbito do Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental.

O estatuto actual da cabra-montês, publicado em 2005, é de espécie Criticamente Em Perigo de extinção.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.