Conservação: este é o primeiro quebra-ossos a nascer em cativeiro em 2020

Chama-se Kobe, em homenagem a Kobe Bryant, e nasceu na Andaluzia (Espanha) num centro de reprodução que ajuda a trazer de volta esta espécie de abutre, a mais ameaçada da Europa.

 

O quebra-ossos (Gypaetus barbatus) é o abutre mais ameaçado da Europa, onde se estima que existam hoje pouco mais de 200 casais, 130 dos quais em Espanha.

Em Portugal, a espécie está dada como extinta.

 

Quebra-ossos. Foto: Hansruedi Weyrich

 

Todos os anos é aguardado com expectativa o número de crias que nascem (e sobrevivem) nos vários centros europeus que reproduzem o quebra-ossos em cativeiro para fins de conservação.

Em 2020, a primeira cria nasceu a 30 de Janeiro no Centro de Reprodução em Cativeiro para o Quebra-ossos de Guadalentín, na Andaluzia, anunciou hoje a Fundação para a Conservação dos Abutres (VCF, sigla em inglês).

Esta cria recebeu o nome de Kobe, em homenagem ao impressionante jogador de basquetebol, o norte-americano Kobe Bryant, que faleceu a 26 de Janeiro passado.

 

Kobe. Foto: VCF

 

“O espectacular e bem-sucedido regresso dos quebra-ossos aos Alpes e à Andaluzia só foi possível graças à reintrodução de indivíduos criados em cativeiro”, comentou José Tavares, director da VCF, em comunicado enviado à Wilder.

“Agora estamos a fazer o mesmo em Grands Causses (França), em Maestrazgo (Valência, Espanha), na Córsega (que tem uma das últimas populações autóctones europeias).”

Nos próximos anos, adiantou José Tavares, está previsto o início dos trabalhos nos Balcãs.

O grande objectivo é criar um “verdadeiro programa de conservação europeu para o quebra-ossos, que quer ligar populações e recuperar a espécie por todo o continente”, explicou o responsável.

 

Quebra-ossos. Foto: Hansruedi Weyrich

 

Para o conseguir, “cada cria conta”.

Kobe nasceu em Guadalentín a 30 de Janeiro com 139,1 gramas de peso e de perfeita saúde.

Este acontecimento marca o início do período de nascimentos da rede de reprodução em cativeiro do quebra-ossos da VCF, composta hoje por 178 destes abutres.

Guadalentín tem hoje 27 quebra-ossos e é o centro mais importante desta rede de 38 centros. É onde nascem mais crias por ano – em 2019 nasceram e sobreviveram sete crias – e especializou-se em adoptar e cuidar de crias de outros centros e zoos.

A Fundação assumiu recentemente a gestão do centro de Guadalentín, até então nas mãos da Junta da Andaluzia, algo que irá fazer durante os próximos dois anos.

“A reprodução em cativeiro de quebra-ossos é essencial para a sua reintrodução na natureza e tem sido uma componente crucial para trazer de volta a espécie aos Alpes, depois da sua extinção”, segundo a VCF.

Nas últimas décadas, os conservacionistas têm libertado quebra-ossos na natureza para reintroduzir ou reforçar a população desta espécie na Europa. Entre 1986 e 2019 foram libertados 323 quebra-ossos juvenis na natureza, incluindo 227 nos Alpes e nos Pré-Alpes e 63 na Andaluzia.

 

Quebra-ossos. Foto: Hansruedi Weyrich

 

Em 2019, a VCF e os seus parceiros libertaram 22 abutres, nove deles na Andaluzia, número que tornou o ano passado no melhor ano de sempre para a reintrodução de quebra-ossos na natureza.

Em Portugal, a espécie está dada como extinta. Até há pouco tempo não se conheciam registos da sua ocorrência desde o final do século XIX, segundo o livro “Aves de Portugal” (2010). O registo mais preciso era de 1888 quando duas aves foram abatidas no rio Guadiana. Os exemplares estão hoje no Museu de Zoologia da Universidade de Coimbra. Mas em Maio de 2018, a Fundação para a Conservação dos Abutres revelou que um observador de aves alemão viu e fotografou um quebra-ossos no Algarve.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez. Ajude a dar um nome à próxima cria.

A VCF decidiu dar às crias que nasçam este ano em Guadalentín o nome de atletas internacionais, começando com Kobe.

Está desde já convidado a sugerir o nome da próxima cria. Para isso basta fazer a sua sugestão no Twitter da VCF em @4vultures.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais sobre o quebra-ossos:

Como é um quebra-ossos: esta é uma ave com quase três metros de envergadura de asa e até oito quilos de peso. A plumagem pode ser muito escura na sua fase juvenil e tornar-se mais clara com as sucessivas mudas. Mas talvez o que melhor a caracteriza são as barbas escuras perto do bico e o vermelho vivo em redor dos olhos.

Onde nidifica: nas saliências rochosas das grandes cadeias montanhosas.

O que significa o seu nome científico: em Latim, Gyp quer dizer abutre, aetus quer dizer águia e barbatus quer dizer com barba.

Alimenta-se de quê: esta ave é a única do planeta que se alimenta quase exclusivamente de ossos, principalmente de ungulados. Pode chegar a alimentar-se de ossos com 20 centímetros, que digere graças ao seu potente estômago. Quando não os consegue comer inteiros, agarra neles com as suas garras e lança-os de grandes alturas em zonas rochosas para os quebrar.

Quais as maiores populações de quebra-ossos na Europa: esta é uma espécie em perigo de extinção no Velho Continente. As maiores populações são as da cordilheira Pirenaica, da Córsega e Creta. A nível mundial, a União Internacional para a Conservação da Natureza classificou-a como Quase Ameaçada.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.