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COP15: ONU pede aos países para investirem mais na conservação das espécies

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A comunidade mundial precisa investir muito mais e elevar o nível de compromisso para com a conservação da natureza e evitar extinções de espécies, alertou um alto responsável da ONU, na véspera de uma nova ronda de negociações mundial sobre a biodiversidade.

A primeira parte da COP15 (Conferência das Partes) da Biodiversidade – que já foi adiada por duas vezes – começa hoje na cidade chinesa de Kunming, com o objectivo de gerar momentum para um ambicioso acordo pós-2020 destinado a reverter décadas de destruição de habitats e perda de espécies selvagens.

Os 195 países que assinaram a Convenção de Diversidade Biológica (CBD, sigla em inglês) vão trabalhar os detalhes para um novo documento que irá definir as metas para proteger a natureza na próxima década. Em cima da mesa está, por exemplo, a conservação de 30% das terras e dos mares até 2030 e um travão à produção de resíduos plásticos.

David Cooper, vice secretário-executivo da Convenção da ONU para a Diversidade Biológica, disse num briefing e citado pela agência Reuters que os ministros que participam esta semana em reuniões online precisam mostrar mais ambição e dar uma “direcção política clara” aos negociadores que irão debater e aprovar um acordo final em Kunming em Maio de 2022.

Organizações ambientalistas alertam que não há tempo a perder para proteger habitats e abrandar o ritmo da extinção das espécies, especialmente depois de os Governos não terem conseguido cumprir nenhuma das metas 2020 de Biodiversidade aprovadas em Aichi, Japão, uma década antes.

Contudo, Cooper diz que o nível de urgência ainda não é suficiente.

“Actualmente, a maioria dos países está a gastar mais dinheiro a financiar actividades que destroem a biodiversidade do que em actividades que a conservam. Isto terá de mudar”, disse citado pela Reuters.

As Nações Unidas querem que os países se comprometam a proteger 30% da superfície terrestre e marinha até 2030, um compromisso já assumido por vários Estados, incluindo os Estados Unidos. A China ainda não fez esse compromisso, apesar de ter implementado um sistema de “linha vermelha de protecção ecológica” que já inclui 25% do seu território fora do alcance das empresas de construção.

Esta semana, a China deverá apresentar uma declaração, conhecida como a Declaração Kunming, que irá definir o tom para a sua liderança na área do Ambiente.

Cooper disse aos jornalistas que é importante que todos os países protejam mais os seus ecossistemas, mas isso não será suficiente por si só para resolver a perda de biodiversidade. São necessários mais compromissos para gerir os outros 70%.

E ainda que a pandemia tenha trazido uma nova urgência à protecção da biodiversidade, isso ainda não está reflectido nos pacotes de ajuda financeira e de medidas de estímulo económico pós-COVID-19.

“Temos de garantir que (o estímulo) reforce a biodiversidade e que não acrescente mais problemas”, disse Cooper. “Mundialmente, se olharmos à nossa volta, os pacotes de estímulo económico estão a fazer mais mal do que bem.”

A COP15 vai acontecer em dois momentos, online de 11 a 15 de Outubro, e depois de 25 de Abril a 8 de Maio de 2022 na cidade de Kunming. A conferência reúne Governos de todo o mundo que deverão acordar novas metas para a conservação da natureza durante a próxima década.

Ainda assim, são profundas as divisões entre os países sobre o caminho a seguir nos próximos 10 anos. A França e a Costa Rica estão entre uma coligação de países que apoiam a iniciativa de declarar 30% dos oceanos e das terras como áreas protegidas até 2030. Mas quando os cientistas pedem uma protecção mais ambiciosa da biodiversidade do planeta, há países que se opõem fortemente, como o Brasil e a África do Sul.

Outra fonte de tensão é o financiamento, com os países em desenvolvimento a pedir aos países ricos para financiarem as suas transições ecológicas.

Nos últimos 50 anos, a natureza tem sofrido perdas tremendas, com um declínio médio de dois terços nas populações de mamíferos, aves, anfíbios, répteis e peixes, segundo o relatório Living Planet, do ano passado.

Esta perda da biodiversidade está a pôr em risco o bem-estar humano, a afectar o abastecimento de alimentos, a saúde e a segurança, bem como a aumentar a probabilidade de novas pandemias.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.