Foto: Anja Odenberg/Pixabay

Corredor para a vida selvagem em Portugal recebe 2,6 milhões de euros

Um corredor com 120.000 hectares, entre a Serra da Malcata e o Canhão Fluvial do Douro, vai ser criado no Vale do rio Côa para ajudar a trazer de volta lobos, linces, veados, corços e abutres.

 

Os 2,6 milhões de euros serão disponibilizados pelo Endangered Landscapes Programme (ELP), entre 2019 e 2023, foi revelado na semana passada.

“Queremos ampliar aquilo que já estamos a fazer na Reserva da Faia Brava a toda a área do Côa”, explicou hoje à Wilder Pedro Prata, líder da equipa do Rewilding Western Iberia.

A Reserva da Faia Brava, com cerca de 1.000 hectares nos concelhos de Pinhel e Figueira de Castelo Rodrigo, é uma das nove áreas piloto do projecto europeu Rewilding Europe – Making Europe a Wilder Place.

Esta é uma região com escarpas íngremes, florestas de sobreiro e azinho, matagal mediterrâneo e olival e amendoal tradicional. Ao abandono da terra pelo Homem tem-se seguido o regresso da vida selvagem, como abutres, águias-reais, águias-de-bonelli, corço e javali.

Há quase uma década que ali decorrem acções de restauro ecológico, valorização dos habitats e aumento da disponibilidade de alimento das espécies mais ameaçadas, por exemplo.

A partir de Janeiro de 2019, o projecto Scalling up Rewilding in Western Iberia vai ampliar estas acções, através de uma parceria entre a Associação Transumância e Natureza (ATNatureza), Universidade de Aveiro e a Zoo Logical.

Uma das medidas previstas é a criação de uma área protegida de 35.000 hectares no Vale do Côa. “Esta é uma proposta para criar uma figura de protecção legal que englobe de forma integrada o que já existe no terreno, ou seja, a Zona de Protecção Especial (ZPE) do Vale do Côa, a Reserva da Faia Brava e o Parque Arqueológico”, explicou Pedro Prata. “Em vez de termos três protecções diferentes, vamos propor uma protecção única, coerente e articulada” aos parceiros e agentes na região.

Os maiores beneficiários são as espécies-presa – coelho-bravo, perdiz, corço e veado – e os carnívoros, como o lobo-ibérico e o lince-ibérico.

Outras acções previstas passam pela reintrodução de cavalos selvagens, tauros (gado bovino re-naturalizado), corços e veados e a promoção de uma rede de áreas naturalmente pastoreadas. Isto vai “formar a espinha dorsal de uma paisagem natural maior, definida por valores culturais e de natureza únicos e magníficos”, comentou, em comunicado, Deli Saavedra, coordenador regional da Rewilding Europe e gestor geral do projecto.

A iniciativa pretende ajudar a reduzir o risco de incêndios e, através do regresso de vida selvagem icónica, apoiar uma economia local baseada na natureza. Segundo os responsáveis, estão previstas acções de educação ambiental, cursos de formação para guias de natureza e apoios às empresas locais com negócios baseadas na natureza.

O ELP foi recentemente criado por um investimento de 30 milhões de dólares da Arcadia, fundo filantrópico de Lisbet Rausing e Peter Baldwin. É gerido pela Cambridge Conservation Initiative e a sua visão é um “futuro em que as paisagens da Europa são enriquecidas com biodiversidade, estabelecendo ecossistemas resistentes e mais auto-sustentáveis que beneficiam a natureza e as pessoas”.

O projecto Scalling up Rewilding in Western Iberia é um dos oito selecionados e apoiados pelo ELP, que trabalharão para restaurar processos naturais em várias paisagens da Europa.

“Esta é uma forma de fazer conservação diferente da tradicional na medida em que não nos queremos limitar a estancar declínios de espécies. Queremos promover uma maior qualidade de habitats, com muito mais biodiversidade e a uma escala mais ambiciosa”, explicou Pedro Prata.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.