Coruja-cinzenta vence Prémios de fotografia Audubon 2018

Uma coruja-cinzenta a tentar equilibrar-se num ramo demasiado fino foi a fotografia vencedora da 9ª edição dos Prémios Audubon. A imagem de Steve Mattheis foi a escolhida de entre mais de 8.000 submetidas por fotógrafos norte-americanos.

 

Os quatro vencedores, anunciados a 2 de Julho, foram seleccionados por um júri – onde se inclui Kenn KaufmanMelissa Groo e Allen Murabayashi – que analisou mais de 8.000 fotografias de aves, submetidas por fotógrafos de 50 estados norte-americanos e 10 províncias canadianas. Os critérios foram a qualidade técnica, originalidade e mérito artístico.

“Independentemente de onde tenham sido captadas, todas as imagens invocam o esplendor, resiliência e ingenuidade das aves selvagens”, escreve em comunicado a Audubon Society, criada em 1905 para conservar estes animais.

O grande vencedor é Steve Mattheis, com a fotografia de uma coruja-cinzenta (Strix nebulosa), feita na região de Teton (Wyoming, Estados Unidos).

 

 

“Depois de uma seca que durou seis semanas, consegui finalmente observar uma coruja-cinzenta a voar num bosque, numa bonita noite de Outono”, contou o fotógrafo. “Corri para a acompanhar e passei 80 minutos a fotografá-la, enquanto voava de pouso em pouso, a caçar e a apanhar vários roedores.”

Assim que fez esta imagem, Steve soube que estava a presenciar algo especial. “A coruja estava a tentar encontrar o equilíbrio num ramo demasiado fino, o que lhe deu uma postura pouco usual, energética e assimétrica, enquanto olhava directamente para a minha câmara.”

Gary R. Zahm é o fotógrafo que venceu a categoria profissional dos Prémios Audubon, com uma fotografia de pernilongos-de-costas-negras (Himantopus mexicanus) que descansavam no Refúgio Nacional de Vida Selvagem de Merced (California, Estados Unidos).

 

 

“Numa manhã de Dezembro, encontrei um pequeno bando de pernilongos-de-costas-negras a descansar juntos numa zona húmida”, explicou o fotógrafo. “Movendo-me lentamente, consegui aproximar-me um pouco sem perturbar a sua tranquilidade. A luz suave iluminava a parede de plantas e a plumagem das aves. Senti-me em paz ao captar esta imagem, sabendo que estas aves têm uma casa para se abrigar nos nossos valiosos refúgios de vida selvagem.”

A categoria de Vencedor Amador foi para Diana Rebman, com a fotografia de um chapim-rabilongo (Aegithalos caudatos) captada no Parque Nacional Akan-Mashu (Japão).

 

 

“Num dia frio de Fevereiro parei para fotografar cisnes-bravos, mas as condições não eram boas: céus cinzentos, ventos fortes e cisnes ‘sujos'”, recorda a fotógrafa amadora. “Quando regressava à carrinha, reparei nestes amorosos chapins que bicavam, à vez, uma ponta de gelo. Passei horas a fotografar este comportamento impressionante. Que adaptação! É preciso ser-se inteligente para sobreviver a condições tão duras.”

Este ano, os Prémios Audubon tiveram uma surpresa. Uma vez que o júri, no processo de selecção das imagens, não tem acesso ao nome dos autores, só no final a organização se apercebeu que houve um mesmo fotógrafo a vencer três galardões. Liron Gertsman, vencedor da categoria Jovens Fotógrafos, venceu ainda na categoria dos adultos e nas menções honrosas.

Este fotógrafo de 17 anos, da Columbia Britânica (Canadá), venceu a categoria de Jovem Fotógrafo com uma imagem de periquitos-de-asa-azul (Brotogeris cyanoptera) no Parque Nacional Yasuní, no Equador.

 

“Durante três dias seguidos esperei num abrigo perto de uma zona com água frequentada por periquitos-de-asa-azul e outras aves da Amazónia”, recorda. “Quando, finalmente, na terceira manhã centenas de aves desceram do cimo das árvores para o chão da floresta, estava pronto.”

Liron diz que vai ser difícil esquecer o espectáculo que foi ver estas aves e ouvir o seu som ensurdecedor.

Este fotógrafo recebeu também uma menção honrosa, por uma imagem de uma águia-americana (Haliaeetus leucocephalus) captada na Colúmbia Britânica (Canadá).

 

 

“Esta foi a águia-americana mais cooperativa que alguma vez encontrei. Todos os Outonos, milhares de águias são atraídas para o delta do rio Fraser para se alimentar de salmões; quando estes acabam, centenas alimentam-se num aterro ali perto onde ficam durante o Inverno. Encontrei esta águia pousada num tronco de uma árvore, junto a um trilho, num dia de vento e chuva. Fiz muitas fotos mas gostei especialmente desta pela forma como ilustra o poder e a maravilha que é esta espécie emblemática.”

A terceira imagem vencedora de Liron, e que lhe valeu uma menção honrosa para jovens fotógrafos, foi a de um colibri-brilhante-fulvo (Heliodoxa rubinoides), captada em Mindo, no Equador.

 

 

“Ao observar este colibri na floresta nebulosa, reparei que voltava constantemente ao mesmo pouso, usando-o como base para apanhar insectos”, descreve Liron. “Fiz o meu melhor para conseguir captar a ave e quando olhei para a imagem que tinha feito fiquei espantado com a transparência das penas e com os detalhes, nesta imagem a contra-luz.”

A menção honrosa para profissionais foi para o fotógrafo Donald Quintana, pela imagem de um tordo-sargento (Agelaius phoeniceus), no Refúgio Nacional de Vida Selvagem de Merced, na Califórnia (Estados Unidos).

 

 

“Uma visita a este refúgio é sempre um evento mágico, não importa quantas vezes lá vamos”, segundo  Donald. “Neste dia em particular estava a acompanhar três colegas fotógrafos quando ouvi o chamamento de um tordo-sargento mesmo perto do veículo que usávamos como abrigo. Começámos a fotografar, enquanto a ave exibia as suas penas vermelhas para eventuais parceiros.”

Este pato-carolino (Aix sponsa) valeu a Scott Suriano uma menção honrosa para amadores.

 

 

A fotografia foi feita em Baltimore, Maryland (Estados Unidos), no primeiro dia de Primavera. “Mesmo com neve, fui até um lago onde havia patos-carolinos. Equipei-me, agarrei na câmara fotográfica e entrei na água. Tentando não os perturbar, e enregelado, fiquei na água o tempo suficiente para conseguir uma imagem de um pato-carolino, cuja expressão parece captar como nós os dois nos sentíamos naquele dia frio e de neve”.

O prémio para o grande vencedor é de 5.000 dólares (4.260 euros) e os prémios para fotógrafos profissionais e amadores é de 2.500 dólares (2.130 euros). O prémio para jovens fotógrafos é uma semana no Campo da Audubon em Hog Island para aperfeiçoar a técnica.

As fotografias vencedoras e as menções honrosas serão publicadas na revista da Audubon e na Nature’s Best Photography e serão expostas no Museu de História Natural Smithsonian.

A Audubon quis dedicar a 9ª edição destes prémios ao centenário da Lei das Aves Migradoras que agora se comemora. “As fantásticas fotografias deste ano celebram o esplendor de muitas espécies de aves protegidas por esta lei, a mais importante para a conservação das aves”.

No entanto, alerta que esta legislação “está a ser atacada pela Administração Trump”. Segundo a Audubon, a Administração está a dar uma nova interpretação a esta legislação, uma em que deixa de ser possível responsabilizar as indústrias pela morte de aves, nomeadamente no caso de derrames de petróleo, e que suspende os incentivos às empresas que adoptem práticas amigas das aves.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Pode apreciar aqui as 100 melhores fotografias da 9ª edição dos Prémios Audubon.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.