Crianças que vivem perto de espaços verdes mostram melhor desempenho cognitivo aos 10 anos de idade

Foto: Joana Bourgard

Um estudo realizado por investigadores da Universidade do Porto analisou 3.827 crianças residentes na Área Metropolitana do Porto, em vários momentos da vida.

A análise procurou compreender qual é a importância da exposição a espaços verdes, como parques e jardins públicos, e também a espaços azuis como mares e rios, para o desenvolvimento cognitivo dos mais novos, explica em comunicado o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, responsável pelo estudo.

“Vários artigos têm já demonstrado que o contacto com a natureza pode ter um importante papel no desenvolvimento cognitivo, muito provavelmente por os espaços naturais estarem associados a níveis mais baixos de stress e de poluição e a uma maior socialização e prática de atividade física”, admite o ISPUP.

Neste caso, o objectivo dos investigadores foi “colmatar algumas lacunas existentes na literatura sobre esta associação”, explica Diogo Almeida, autor principal do artigo, citado no comunicado. Em causa está por exemplo a análise dos efeitos da exposição dos mais pequenos a espaços azuis.

Os resultados, publicados num artigo na revista Science of the Total Environment, mostram que “ter espaços verdes até 800 metros da residência está associado positivamente com a performance do quociente de inteligência (QI) e com o QI global”.

“Este estudo veio reforçar a importância dos espaços verdes no desenvolvimento cognitivo das crianças”, sublinha Diogo Almeida, por seu turno. “Seria importante que, em termos de planeamento urbano, se considerasse melhorar a disponibilidade de espaços verdes, sobretudo perto das áreas residenciais. Tal poderia beneficiar a inteligência das crianças e reflectir-se em adultos mais saudáveis e mais competentes.”

No entanto, os investigadores não encontraram uma associação entre a inteligência e a exposição a espaços azuis.

Para realizar o estudo, a equipa recorreu a 3.827 crianças que são participantes na coorte do ISPUP, denominada Geração XXI, que desde 2005 acompanha 8.647 participantes que nasceram nas maternidades públicas da área metropolitana do Porto.

Em diferentes momentos – quando as crianças fizeram quatro, sete e dez anos de idade – os investigadores mediram a densidade de vegetação recorrendo a imagens de satélite. Também mediram a distância a pé entre a casa e a escola destas crianças para espaços verdes urbanos e espaços azuis próximos. Por fim, mediram o QI dos participantes quando estes chegaram aos 10 anos de idade.


Saiba mais.

Recorde porque é que os britânicos estão preocupados com o divórcio cada vez maior entre as crianças e a natureza.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.