Guarda-rios. Foto: Lukas Bieri/Pixabay

Crise da biodiversidade debatida esta semana em Paris por 132 países

Cientistas e responsáveis de 132 Governos estão reunidos esta semana em Paris para concluir um dos mais completos relatórios de sempre sobre a relação da humanidade com a natureza.

 

O “Global Assessment of Biodiversity and Ecosystem Services” é o primeiro relatório deste tipo produzido pelo Painel Intergovernamental para a Biodiversidade e Serviços de Ecossistemas (IPBES, sigla em inglês) desde o “Millennium Ecosystem Assessment”, publicado em 2005.

Esta semana, de 29 de Abril a 4 de Maio, este relatório está a ser discutido, terminado e aprovado na 7ª Sessão do Plenário do IPBES (#IPBES7), em Paris. Na capital francesa estão reunidos alguns dos maiores investigadores do mundo na área da biodiversidade e os representantes de 132 Governos.

O relatório completo, com 1.800 páginas, e o Sumário para Decisores Políticos, com 40 páginas, serão divulgados a 6 de Maio na sede da UNESCO, em Paris. Este foi o resultado de três anos de trabalho. Cerca de 150 especialistas de mais de 50 países analisaram 15.000 fontes de informação (incluindo artigos científicos e relatórios governamentais) para produzir este relatório e perceber o que tem estado a acontecer ao mundo natural.

 

Urso-pardo. Foto: Thomas Wilken/Pixabay

 

Em comunicado, o IPBES salienta que este é também o primeiro relatório mundial a avaliar e incluir conhecimento, preocupações e prioridades das populações locais e povos indígenas.

O documento vai detalhar as perdas sofridas pelo mundo natural nos últimos 50 anos e as perspectivas de futuro para a natureza e para os humanos. O objectivo é lançar um alerta para a crise da biodiversidade e ajudar a tomar medidas durante a próxima década.

Um autor do relatório citado pela BBC News disse que este vai salientar a “emergência social e ecológica” que o mundo está a enfrentar agora.

Ainda não se sabe ao certo o que dirá esta avaliação, mas a agência de notícias francesa AFP teve acesso a um relatório, segundo o qual entre 500.000 e um milhão de espécies de animais e plantas estão hoje ameaçadas de extinção.

 

Fêmea de leão-africano. Foto: Stig Nygaard/Wiki Commons

 

“A perda de espécies, de ecossistemas e da diversidade genética já é uma ameaça global e geracional para o bem-estar humano”, disse Robert Watson, coordenador do IPBES, em comunicado. “Proteger as contribuições da natureza para as pessoas será o desafio das próximas décadas. Políticas, esforços e acções, a todos os níveis, só terão sucesso se baseadas no melhor conhecimento possível. É isso que este relatório providencia.”

A biodiversidade é uma palavra científica, que surgiu nos anos 1980, para descrever toda a fantástica variedade de vida que ocorre no planeta Terra, as interações entre as espécies e entre estas e os ambientes onde vivem.

A biodiversidade ajuda a providenciar e a manter água potável, solos férteis, medicamentos, clima estável e dá-nos locais para passarmos tempo de qualidade ao ar livre.

 

Natureza. Foto: Virvoreanu Laurentius/Pixabay

 

“Quero que as pessoas saibam que a natureza é mesmo muito importante e que não a devemos destruir, e que é absolutamente essencial para a alimentação, água e segurança energética”, concluiu Robert Watson.

O IPBES, que começou a trabalhar em 2011 e que hoje tem 132 Estados membros, é um organismo equivalente ao IPCC (Painel Intergovernamental da ONU para as Alterações Climáticas). Não produz ciência mas selecciona e trabalha os dados científicos para que possam ser utilizados, atempadamente, pelos decisores políticos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.