Floresta. Foto: Aymanjed Jdidi/Pixabay
Foto: Aymanjed Jdidi/Pixabay

“Deixem a madeira morta nas florestas”, apelam cientistas europeus

A estratégia de limpeza e reflorestação em grande escala, aplicada na Alemanha, tem levado à extinção de muitos fungos e insectos que dependem de madeira morta.

O aviso partiu de um grupo de cientistas da Universidade Julius Maximilians – Würzburg, na Alemanha, numa carta publicada pela revista Science no final de Setembro.

Pragas de escaravelhos, ondas de calor, secas, tempestades e fogos estão a afectar fortemente as florestas deste país da Europa Central, onde muitas vezes “quem vai em passeio encontra abetos mortos e bétulas secas”, nota um comunicado da Universidade de Würzburg.

Abetos mortos por escaravelhos que comem a casca das árvores, na região alemã da Bavária. Foto: Simon Thorn / Universität Würzburg

A solução anunciada pelo Governo federal alemão, em Julho passado, segue uma estratégia que tem sido aplicada há centenas de anos: está previsto um investimento de 500 milhões de euros na retirada das árvores mortas e reflorestação das áreas afectadas.

No entanto, “esta política deverá criar povoamentos florestais extensos e uniformes que ficam especialmente vulneráveis aos impactos das futuras alterações climáticas”, avisa Simon Thorn, um dos autores da carta.

O que seria necessário para criar florestas mais resistentes? Não remover a madeira morta e não realizar grandes operações de reflorestação, defendem estes cientistas.

A estratégia contrária seguida ao longo dos últimos séculos levou ao “declínio da biodiversidade e à extinção de muitos fungos e insectos que dependem de madeira morta.” No entanto, sublinham, um dos objectivos inscritos no acordo do governo de coligação da Alemanha é travar o grande declínio de insectos que se faz sentir no país.

E por isso, o dinheiro previsto para limpeza e reflorestação deveria ser aplicado na preservação da madeira morta nestes bosques e de espaços abertos entre as copas das árvores da floresta, afirmam Simon Thorn, Joerg Mueller e Alexandro Leverkus, autores da carta.

“Esta estratégia iria ao mesmo tempo beneficiar espécies de árvores economicamente importantes e preservar insectos ameaçados.”

De acordo com os investigadores, distúrbios naturais como secas, pragas de escaravelhos e tempestades criam espaços vazios entre as copas da árvores, o que abre espaço ao crescimento de uma grande variedade de espécies nativas. “Isso aumenta a resistência de uma floresta a eventos climáticos extremos”, defendem.

Já as iniciativas de reflorestação rápida têm como resultado a criação de grupos de árvores, todas com a mesma idade, “altamente sensíveis a eventos climáticos e a pragas.”

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.