lince
Lince-ibérico. Foto: LIFE Iberlince

Depois de alcançar Barcelona, Lítio foi libertado pela terceira vez em Portugal

Foi há pouco mais de um mês, no final de Maio, que Lítio apareceu de surpresa num campo de cerejeiras nos arredores de Barcelona, depois de quase ano e meio sem dar sinal. Agora, regressa pela segunda vez ao ponto de partida, no Sul de Portugal.

 

Este macho de lince-ibérico foi libertado na zona do Vale do Guadiana, esta segunda-feira, 2 de Julho – tal como já tinha sucedido em 2015 e 2016 – informa uma nota do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), enviada à Wilder.

 

Lítio a ser libertado da caixa transportadora
Lítio devolvido à natureza pela terceira vez. Foto: ICNF/LIFE Iberlince

 

Desde Outubro de 2016, a última vez em que tinha sido libertado no Vale do Guadiana, de Lítio pouco se soube, até ter sido avistado nas proximidades de Barcelona, onde foi capturado a 6 de Junho passado por técnicos da Junta de Andaluzia e da Generalitat da Catalunha.

A coleira que lhe tinha sido colocada apenas “funcionou até ao início de 2017, tendo o último sinal emitido permitido localizá-lo no Algarve, nas proximidades de Portimão”.

Nascido em 2014 no Centro de Cria de El Acebuche, na Andaluzia, foi pela primeira vez libertado no Vale do Guadiana, em Maio de 2015, no âmbito do projecto LIFE Iberlince, que tem como objectivo a recuperação da distribuição histórica deste espécie em Portugal e Espanha.

No entanto, não se chegou a fixar naquele território por muito tempo. “Em Maio de 2016, algum tempo depois da coleira de que era portador ter deixado de emitir sinal, foi localizado na zona de Huelva.” Depois de ganhar forças, num centro de recuperação, em Outubro do mesmo ano foi mais uma vez libertado no Vale do Guadiana – onde permaneceu pouco tempo.

Um dos objectivos da última captura, além de avaliar a condição física, era descobrir os sítios por onde tinha passado até chegar ao Leste de Espanha, analisando os dados da coleira GPS. Mas esse percurso pode ficar por conhecer, uma vez que a coleira está “em mau estado”. “Assim o confirmaram (…) técnicos do ICNF depois de comprovarem que a coleira de Lítio estava mordida e que o interior estava molhado”, indicava uma nota do LIFE Iberlince, no final de Junho.

 

lítio dentro da caixa transportadora
Lítio, pouco antes de ser devolvido à natureza. Foto: ICNF/LIFE Iberlince

 

Entretanto, o lince “foi submetido a um conjunto alargado de análises” no Centro de Recuperação de Fauna Silvestre de Torreferrusa, na região de Barcelona, do qual “resultou um diagnóstico plenamente favorável quanto ao seu estado de saúde”. Isto, apesar dos cerca de 1000 quilómetros que terá percorrido nas suas viagens.

 

Número de linces quintuplicou

Lítio foi o quinto lince a realizar dispersões conhecidas entre Portugal e Espanha, contrariando a fixação num território, mas o primeiro a ser detectado na Região Autonómica da Catalunha, onde não se avistava um lince-ibérico desde os princípios do século XX.

A maioria dos linces-ibéricos que se estabilizam numa população, como a dos linces do Vale do Guadiana, fixam-se em territórios que medem entre cinco a dez quilómetros quadrados.

Nos últimos 15 anos, de acordo com os dados do último censo realizado, o número de exemplares em toda a Península Ibérica quintuplicou, crescendo de 94 linces em 2002 para um total de 589 no ano passado. O próximo passo depois da consolidação das diferentes populações, segundo os responsáveis do projecto Iberlince – que está agora a terminar – é conseguir a conectividade entre as diferentes áreas onde ocorre a espécie.

Co-financiado por fundos europeus, o projecto reuniu 22 parceiros públicos e privados, portugueses e espanhóis, e deverá ter continuidade com um novo projecto LIFE.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Até Maio passado, já tinham nascido 12 crias de lince nos campos de Portugal.

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.