Descoberta no Bornéu espécie de rinoceronte que se pensava extinta

Investigadores do WWF (World Wildlife Fund for Nature) nem queriam acreditar quando descobriram o primeiro rinoceronte de Samatra em Kalimantan, na parte Indonésia do Bornéu. Até agora pensava-se que a espécie estava extinta nesta região do mundo.

 

Há mais de 40 anos que esta espécie (Dicerorhinus sumatrensis) não era observada naquela zona. Até aparecer esta fêmea, que terá quatro ou cinco anos de idade. O animal foi capturado a 12 de Março e agora está numa zona segura e vigiada, anunciou a WWF nesta terça-feira. Nos próximos tempos será transportada de helicóptero para a sua nova casa, uma floresta protegida a cerca de 150 quilómetros do local onde foi capturada e considerada um santuário para rinocerontes na Indonésia.

“Esta é uma descoberta entusiasmante e um enorme sucesso conservacionista”, disse Efransjah Efransjah, director da WWF na Indonésia, em comunicado. “Temos agora provas de que esta espécie, que pensávamos estar extinta em Kalimantan, ainda vive nestas florestas. Vamos duplicar os nossos esforços para proteger esta espécie extraordinária.”

 

Foto: Ari Wibowo/WWF Indonesia
Foto: Ari Wibowo/WWF Indonesia

 

Em 2013, um censo feito por uma equipa da WWF percebeu que a espécie afinal não estava extinta em Kalimantan quando identificou pegadas na floresta e uma câmara de controlo remoto conseguiu uma imagem de um rinoceronte. Desde então foram identificados 15 rinocerontes de Samatra em três populações em Kutai Barat.

O rinoceronte de Samatra, classificado pela União Internacional de Conservação da Natureza como Criticamente em Perigo de extinção, é uma das duas espécies de rinoceronte que ainda existem na Indonésia.

Actualmente há apenas 100 rinocerontes-de-samatra no planeta, nove dos quais em cativeiro. Em Agosto de 2015, uma equipa de cientistas publicou um artigo na revista científica Oryx que declarou a extinção da espécie na natureza na Malásia.

Os animais que vivem nas florestas fragmentadas do Sudeste Asiático estão dispersos em três pequenas populações na ilha de Samatra e numa população no Bornéu, o que torna difícil encontrarem-se e reproduzirem-se.

Além disso, os rinocerontes estão ameaçados pela caça furtiva, perda de habitat por causa da desflorestação, exploração mineira e plantações.

“Esta é uma corrida contra o tempo. Dar uma casa segura a estes animais é a única esperança para a sobrevivência do rinoceronte de Samatra”, acrescentou Efransjah. Além desta fêmea, as autoridades vão levar para o mesmo santuário outros três rinocerontes para que possam criar um núcleo reprodutor.

O rinoceronte-de-samatra é uma das cinco espécies de rinocerontes do planeta. É a mais pequena de todas, com os seus um metro a um metro e meio de altura. Pode pesar entre 500 e 960 quilos. A esperança média de vida na natureza é entre 30 e 45 anos. Esta espécie é considerada a mais “primitiva” de todas as cinco espécies de rinocerontes e será o parente vivo mais próximo dos famosos rinocerontes lanudos que viveram na Europa e na Ásia durante a Idade do Gelo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.