Quercus ilex. Foto: Fritz Geller-Grimm/Wiki Commons

Descoberta nova espécie de aranha em Espanha

Nos troncos e nos ramos de árvores nas planícies agrícolas do Centro de Espanha vive uma espécie de aranha até agora desconhecida para a Ciência, a Araneus bonali. A descoberta foi publicada esta semana na revista científica ZooKeys.

 

O mundo natural da Península Ibérica acaba de ficar mais rico. A nova espécie para a Ciência, Araneus bonali, foi descrita pelos investigadores Eduardo Morano da Universidade de Castela-La Mancha e por Raul Bonal, da Universidade da Extremadura.

Araneus bonali – cujo nome científico é dedicado ao investigador Raul Bonal – tem entre seis e 10 milímetros de comprimento e uma cor cinzenta esverdeada. Passa a ser a oitava espécie do género Araneus na Península Ibérica.

 

 

Foi encontrada durante uma campanha de amostragem em mais de 900 hectares de planícies agrícolas, com algumas árvores isoladas, na localidade de Huecas, na província de Toledo, de Setembro de 2012 a Setembro de 2013. Aqui os Verões são secos, com temperaturas que podem chegar aos 40ºC.

Durante esse ano, os investigadores foram ao local e fizeram recolhas sistemáticas. No artigo contam que a nova espécie foi encontrada em 18 das 24 árvores (Quercus ilex) amostradas.

A maioria dos adultos estava nos troncos, “disfarçados” de líquenes, num mimetismo perfeito, que lhes poderá servir de estratégia para evitar predadores. Os juvenis foram todos encontrados nos ramos das árvores.

Na verdade, os juvenis são mais esverdeados, para se parecerem mais aos rebentos novos das árvores, enquanto que os adultos são mais acinzentados, espantosamente similares aos líquenes que cobrem os troncos das árvores.

Estas aranhas nunca encontraram estas aranhas no solo ou na vegetação.

De acordo com os investigadores, a espécie passa o Inverno como ovo. Os juvenis aparecem em Maio e crescem e tornam-se adultos durante a Primavera e o Verão. A reprodução só acontece em Setembro e Outubro.

Para confirmar que esta é uma espécie nova, os investigadores fizeram análises genéticas e reviram a literatura e os espécimes da Bacia do Mediterrâno no Museu de Ciências Naturais de Madrid.

Agora, a lista de espécies do género Araneus na Península Ibérica é composta por oito espécies (de um total de 641 distribuídas mundialmente): A. angulatus, A. bonali, A. diadematus, A. marmoreus, A. pallidus, A. quadratus, A. sturmi e A. triguttatus.

Além de Huecas, também foram recolhidas aranhas em outras localidades, ainda que em menor número: Piedrabuena (Ciudad Real), Parque Nacional de Las Tablas de Daimiel (Ciudad Real) e Dehesa Casablanca e Guijo de Granadilla (Cáceres).

Curiosamente, a maioria dos espécimes foi recolhida no mesmo local onde uma outra nova espécie de aranha, a Cheiracanthium ilicis  foi descrita em 2016. Por isso, escrevem os autores do artigo, “as políticas de gestão da natureza deveriam preservar as árvores isoladas enquanto refúgios chave para os artrópodes das florestas em paisagens agrícolas, porque podem albergar mais espécies que ainda não foram descobertas”.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Leia o artigo científico aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.