Descoberta para a Ciência uma nova espécie de cogumelo na Madeira

Uma nova espécie de cogumelo, Pluteus lauracearum, foi descoberta para a Ciência na ilha da Madeira, fruto de um achado acidental de uma micologista checa que estava a participar no Congresso Europeu de Micologia na Madeira.

Os espécimes desta espécie, que ainda não tinha sido descrita para a Ciência, foram encontrados na floresta Laurissilva, perto da Levada do Furado, na ilha da Madeira, a 23 de Setembro de 2015.

Pluteus lauracearum na ilha da Madeira. Foto: Hana Ševčíková

A descoberta, acidental, foi feita pela micologista checa Hana Ševčíková que estava a participar no Congresso Europeu de Micologia na Madeira, explicou à Wilder Alfredo Justo, um dos autores do artigo que descreve a espécie, publicado em Outubro na revista científica Phytotaxa, e curador de Botânica e Micologia no New Brunswick Museum (Canadá).

Segundo Alfredo Justo, as espécies do género Pluteus não têm muitos caracteres externos para diferenciá-las. Por isso, a maior parte da classificação é baseada em caracteres microscópicos e, nos dias modernos, em dados de DNA.

“As características mais únicas do Pluteus lauracearum estão na morfologia do chapéu (superfície granulosa, estriado na margem) e na ecologia (associada à floresta Laurus). Mas é sempre necessário verificar os caracteres microscópicos para ter certeza da identificação.”

Pluteus lauracearum na ilha da Madeira. Foto: Hana Ševčíková

As espécies de Pluteus são decompositoras de madeira. “Como muitos outros cogumelos, eles são responsáveis pela decomposição e reciclagem de toda a matéria orgânica que se acumula na floresta (madeira, folhas). Sem esses fungos, a reciclagem do carbono e de muitos outros elementos presentes nos tecidos vegetais não seriam possíveis”, salientou este investigador.

Esta descoberta aconteceu num momento em que o investigador Oğuzhan Kaygusuz estava a fazer estudos taxonómicos do género Pluteus, na Turquia. “As amostras da Madeira foram mais um achado acidental, da micologista checa Hana Ševčíková, que estava a participar no Congresso Europeu de Micologia na Madeira. Depois do estudo morfológico inicial, feito separadamente por Oğuzhan e Hana, e depois de olhar os dados de DNA, percebemos que as suas coleções eram da mesma espécie, e isso era algo que não havia sido descrito antes”, explicou Alfredo Justo.

Actualmente estima-se que apenas estão descritas 2% das espécies de fungos no planeta. Por isso, salienta o investigador, pesquisas taxonómicas como estas “são urgentemente necessárias”.

“A descrição de qualquer nova espécie é sempre um avanço no nosso conhecimento da biodiversidade que nos rodeia, e que ainda não conhecemos totalmente agora. Nos fungos, é também um lembrete de que temos muito trabalho a fazer.”

Desde 2015 até agora não terão sido colectados mais espécimes de Pluteus lauracearum na ilha da Madeira. Mas Alfredo Justo mostra-se confiante em como a espécie provavelmente ainda esteja lá. “Com os fungos, dependemos principalmente do surgimento da estrutura de frutificação (o cogumelo) para perceber que eles estão lá, mas o próprio organismo (o fungo) está sempre lá.”

Alfredo Justo adiantou que a investigadora Hana Ševčíková planeia voltar à Madeira, para procurar novamente esta espécie e fazer a coleta geral de novas amostras.

“Nos últimos anos, com o auxílio de estudos de DNA, estamos a ter uma ideia melhor da diversidade de espécies de cogumelos em Portugal e no resto da Europa”, constatou o investigador. “Todos os meses são descritas novas espécies europeias; algumas podem ainda não ter sido encontradas em Portugal, mas provavelmente estão lá. Ainda há muitas novas espécies a serem descobertas, mas um trabalho taxonómico detalhado é necessário e nem sempre é fácil conseguir financiamento para esse tipos de projetos.”

De momento, Alfredo Justo e os colegas, incluindo investigadores na Europa e América do Norte, estão a trabalhar em estudos taxonómicos das espécies de Pluteus nas florestas temperadas e boreais do Hemisfério Norte. “Encontramos dezenas de novas espécies, que esperamos começar a publicar em breve.”

O género Pluteus é o mais rico em espécies na família Pluteaceae, com cerca de 500 espécies estimadas. ocorre em quase todos os tipos de floresta, desde as regiões boreais, temperadas, austral, subtropicais e tropicais.

Em silmultâneo, no New Brunswick Museum (Canadá) Alfredo Justo está focado no estudo da micoflora regional, catalogando a diversidade de cogumelos na área e descrevendo as novas espécies que encontramos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.