Macho do nano-camaleão (Brookesia nana). Foto: Frank Glow/SNSB

Descoberto camaleão que pode ser o réptil mais pequeno do mundo

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Uma equipa internacional de cientistas encontrou uma nova espécie de camaleão no norte da ilha de Madagáscar, a que chamaram Brookesia nana.

Baptizado de nano-camaleão, este minúsculo réptil foi encontrado durante uma expedição de investigadores alemães e madagascarenses nesta república africana, que fica ao largo da costa de Moçambique. Mas apesar de muitas buscas na região norte da ilha, a equipa encontrou apenas um macho e uma fêmea.

A descoberta foi publicada no final de Janeiro, na revista Scientific Reports. O corpo do macho mede apenas 13,5 milímetros; incluindo a cauda, tem um comprimento total de 22 milímetros. Este macho pode ser o mais pequeno de quase todos os vertebrados, excluindo apenas os peixes, considera o autor principal do artigo científico, Frank Glaw. Já a fêmea é maior, medindo 19 milímetros, com um comprimento total de 29 milímetros.

Frank Glaw é curador de Herpetologia da Colecção de Zoologia do Estado da Bavária, inserida na Staatliche Naturwissenschaftliche Sammlungen Bayerns (SNSB) – uma mega-instituição de pesquisa daquele estado alemão dedicada à história natural, que coordenou este estudo.

Macho do nano-camaleão (Brookesia nana). Foto: Frank Glow/SNSB

“Com a ajuda de micro-tomografias computadorizadas – basicamente raios-x em 3D – conseguimos identificar dois ovos no espécime feminino, e assim demonstrámos que se trata de um adulto”, explica por seu turno Mark Scherz, da Universidade de Potsdam, citado num comunicado da SNSB.

Mais pequenos, genitais maiores

Já a maturidade sexual do macho foi comprovada com recurso a um exame dos genitais, que estavam bem desenvolvidos. Estas estruturas são conhecidas como ‘hemipénis’ e são emparelhados – tal como em todos os outros répteis – e muitas vezes ajudam a identificar uma espécie, indicou a equipa.

Por outro lado, o tamanho do hemipénis do macho foi comparado com o de outras 51 espécies de camaleões de Madagáscar. Os investigadores concluíram que os animais mais pequenos tendem a ter genitais maiores em relação ao tamanho do corpo.

É o que acontece com os genitais deste macho de nano-camaleão, que representam 18,5% do tamanho do corpo – é o quinto maior entre todas as espécies estudadas.

Mas qual a explicação possível para esta característica? Segundo a equipa, a causa pode estar na diferença de tamanhos entre machos e fêmeas, conhecida por ‘dismorfismo sexual do tamanho’.

Macho do nano-camaleão (Brookesia nana). Foto: Frank Glow/SNSB

Enquanto nas espécies de camaleões maiores, os machos costumam ter um amanho superior ao das fêmeas, em espécies mais pequenas passa-se exactamente o contrário. E por isso, “os machos extremamente miniaturados de espécies pequenas precisam de genitais relativamente maiores, de forma a acasalarem com fêmeas que são maiores [do que eles]”, nota Miguel Vences, da Universidade Técnica de Braunschweig, também na Alemanha.

“Há inúmeros vertebrados extremamente miniaturados em Madagáscar, incluindo os primatas mais pequenos e algumas das rãs mais pequenas do mundo, que evoluíram de forma autónoma”, lembra por sua vez Andolalao Rakotoarison, da Universidade de Antananarivo em Madagáscar, outro dos participantes nesta descoberta.

Um mistério por desvendar

Ainda assim, continua por explicar o tamanho tão reduzido deste nano-camaleão. Neste caso não faz sentido referir “o ‘efeito ilha’, que leva espécies de ilhas mais pequenas a terem tamanhos menores de corpo, e que pode ser invocado para outros camaleões pequenos”, considera Fanomezana Ratsoavina, da mesma universidade. Isso porque “o Brookesia nana vive em montanhas da ilha principal de Madagáscar”, a maior ilha de África.

As áreas de distribuição da maioria dos camaleões mais pequenos são muito pequenas também, por vezes limitando-se a áreas com poucos hectares. E por isso, mesmo só tendo sido encontrados dois indivíduos, espera-se que a espécie ocorra apenas num território muito limitado, avisam os cientistas. “Infelizmente, o habitat dos nano-camaleões está sob grande pressão de desflorestação, mas a zona foi recentemente designada como área protegida, e esperamos que isso ajude este novo camaleão minúsculo a sobreviver”, sublinha Oliver Hawlitschek, do Centrum für Naturkunde, em Hamburgo.


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.