Foto: Helena Geraldes

Detectada presença de 32 fármacos na água do Estuário do Tejo

Vestígios de 32 fármacos usados em medicina humana e veterinária foram encontrados na água do Estuário do Tejo, uma das zonas mais importantes de Portugal para a biodiversidade.

 

Três anos de trabalho permitiram encontrar resíduos de antibióticos, anti-hipertensivos, betabloqueadores e anti-inflamatórios em mais de 90% das amostras de água recolhidas em toda a extensão do estuário, revelou ontem, em comunicado, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Antidepressivos, reguladores lipídicos e antiepiléticos também foram identificados.

A equipa de investigadores de vários institutos e universidades – coordenada por Vanessa F. Fonseca, investigadora do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE- Lisboa) – explica que a “presença destes compostos resulta do uso e consequente libertação contínua destes produtos nas águas residuais”.

Estes fármacos foram encontrados ao longo de todo o estuário. Ainda assim, há áreas onde as concentrações são mais elevadas. Segundo o estudo, essas áreas ficam próximas da saída dos efluentes de tratamento de águas residuais, na margem norte da área metropolitana de Lisboa e na zona sul do estuário, próxima do município de Almada e da embocadura do Tejo.

A investigação, que começou em 2016 e que terminará em 2019, decorre no âmbito do projeto Biopharma, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. A equipa integra ainda investigadores da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra e do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária.

Os resultados do estudo serão publicados na edição de Outubro da revista Marine Pollution Bulletin.

O próximo passo da equipa de investigadores passa por determinar a presença de resíduos farmacêuticos em organismos estuarinos, nomeadamente plantas, crustáceos, bivalves e peixes. Além disso, deverá avaliar o potencial de acumulação dos mesmos ao longo da teia trófica.

Todos os anos, o Estuário do Tejo é local de passagem, invernada ou nidificação para milhares de aves que migram entre o Norte da Europa e África, como o pato-trombeteiro, o ganso-bravo, a marrequinha, o flamingo e o alfaiate. Segundo a associação, o estuário alberga regularmente mais de 100.000 aves aquáticas invernantes.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Conheça aqui a história por detrás do documentário Estuário – as marés selvagens do Tejo e aqui o trabalho do Grupo de Anilhagem do Estuário do Tejo que está a monitorizar as aves que passam o Inverno na Quinta da Atalaia.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.