Detectadas falhas na biodiversidade genética nas áreas protegidas marinhas

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Grande Barreira de Coral, um dos recifes mais conhecidos do mundo, na Austrália. Foto: Ryan McMinds / Wiki Commons

Investigadores foram surpreendidos por descobrir que não há diferenças de biodiversidade genética de espécies formadoras de habitats marinhos entre áreas protegidas e não protegidas, segundo um novo estudo.

Uma equipa de investigadores do Porto e de Barcelona – na qual participaram Jean-Baptiste Ledoux e Aldo Barreiro, do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP) – retratou o padrão global de diversidade genética de espécies formadoras de habitats marinhos.

O estudo, publicado em Maio na revista Global Ecology and Biogeography, estudou a diversidade genética de 140 espécies, entre elas corais, esponjas, ervas marinhas e algas marinhas.

Os resultados foram desconcertantes. “Praticamente não há diferença entre os níveis de diversidade genética nas espécies marinhas formadoras de habitat entre áreas protegidas e áreas não protegidas” disse, em comunicado, Jean-Baptiste Ledoux, que liderou o estudo no CIIMAR.

Consequentemente, o estudo conclui que as áreas protegidas não suportam uma maior biodiversidade genética, como seria de esperar. “A diversidade genética é um nível fundamental, mas ainda negligenciado de biodiversidade. Isto está muito bem ilustrado pelo nosso estudo que demonstra a total desconexão entre o padrão de diversidade genética das espécies marinhas formadoras de habitats e a rede de áreas protegidas. Esta desconexão é alarmante”, comentou Jean-Baptiste Ledoux.

Na opinião dos investigadores, há ainda grandes falhas na regulamentação associada às áreas protegidas marinhas. “Apesar da sua definição e legislação estar, há muito, a ser desenhada, as ações de conservação parecem ser incapazes de promover uma maior diversidade genética”, segundo o comunicado do CIIMAR.

As espécies marinhas formadoras de habitats como os corais, algas e ervas marinhas, são espécies ecologicamente muito importantes por estarem na base da formação de habitats marinhos robustos e biodiversos que fornecem recursos e serviços centrais para as pessoas. São ainda responsáveis por aumentar a complexidade dos habitats criando ecossistemas muito particulares como recifes de coral ou florestas de algas marinhas.

Atualmente, as espécies marinhas formadoras de habitats estão altamente ameaçadas pelo impacto das alterações climáticas, como por exemplo os eventos de branqueamento de corais ou as mortalidades massivas no Mediterrâneo, a destruição do habitat e outros impactos antropogénicos.

Segundo os investigadores, o conhecimento sobre os padrões macrogenéticos é crítico para a conservação da biodiversidade, “já que o nível de diversidade genética dentro das espécies está ligado à adaptabilidade das populações às condições do meio”. “Da mesma forma, a diversidade genética é uma componente chave do funcionamento e da resiliência dos ecossistemas a alterações do meio como as provocadas pelas alterações climáticas ou pelas pressões antropogénicas.”

Aldo Barreiro, investigador do CIIMAR, explicou que a conservação da diversidade genética destas espécies não ajudará apenas as espécies visadas. “De facto, demonstrámos uma correlação positiva entre a diversidade genética das espécies formadoras de habitats marinhos e a diversidade de espécies associadas” que vivem nas florestas marinhas e nos recifes de coral.

Outros resultados deste estudo destacam ainda que os níveis de diversidade genética das espécies de formadoras de habitats não são tão elevados quanto os de outras espécies marinhas, como os peixes.

Verificou-se ainda que a diversidade genética não é homogeneamente distribuída, tendo-se observado maior diversidade genética em latitudes médias.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.