Determinação de águia-pesqueira causa admiração na Escócia

A fêmea de águia-pesqueira EJ, com 19 anos, continuou a incubar os seus ovos no meio de neve forte e persistente numa floresta escocesa. As imagens do ninho, transmitidas em directo por uma webcam pela Royal Society for Protection of Birds (RSPB), causaram admiração entre quem acompanha o dia-a-dia destas aves.

 

A fêmea EJ e o macho Odin já são um “clássico” no Loch Garten Osprey Centre, área protegida escocesa gerida pela RSPB. Desde que EJ tomou aquele ninho em 2004, quando a fêmea residente o abandonou, o casal já teve 17 crias que sobreviveram.

Loch Garten é um local conhecido como zona de nidificação para a águia-pesqueira (Pandion haliaetus) desde os anos 1950, para onde esta espécie regressou depois de ter sido dada como extinta como reprodutora no Reino Unido no início do século XX. A RSPB protege as águias-pesqueiras de Loch Garten desde 1958 e, a partir de um primeiro casal, hoje há águias-pesqueiras em várias regiões de Inglaterra e País de Gales.

Um pouco por todo o mundo, há seguidores de EJ e Odin, graças a uma webcam que permite acompanhar estas águias-pesqueiras e as suas crias. Nos últimos dias, quem segue estas aves olhou com admiração (e algum horror) para as imagens do ninho, onde EJ estava a incubar os ovos no meio de neve forte e persistente. Hoje, a neve já começou a derreter.

“Trabalho no centro há 10 anos e não me lembro de um tempo tão mau”, comenta em comunicado divulgado ontem Julie Quirie, gestora da loja daquele centro. “A pobre EJ parece mesmo miserável no seu ‘doughnut’ de neve, como lhe chamamos, mas esta já é a 15ª época dela aqui em Loch Garten e está habituada ao pior da meteorologia da Primavera escocesa”, acrescenta.

 

Foto: Jess Tomes/RSPB

 

“E na verdade não é tão mau quanto parece. A neve é um bom isolador e desde que o nevão não persista, EJ e os seus ovos vão ficar bem. Ainda assim, para nós parece que ela está muito desconfortável”. Se tudo correr bem, EJ e Odin serão pais em meados de Maio. Nessa altura, as temperaturas já estarão mais amenas.

Para Quirie, isto demonstra como as águias-pesqueiras estão bem adaptadas ao seu ambiente. “São capazes de se adaptar às temperaturas elevadas de África Ocidental quando estão em migração e ainda aos caprichos das montanhas altas da Escócia na Primavera e no Verão.”

Em Portugal, a águia-pesqueira já nidificou em quase todo o litoral continental. No início do século XX existiriam entre 22 e 30 casais mas em finais dos anos 1970 apenas existiriam dois, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. A partir de 1991, a população ficou reduzida a um casal reprodutor, na Costa Vicentina. Em 1997 morreu a fêmea e com ela terminou a reprodução da espécie em Portugal. O macho foi visto pela última vez em 2002.

Desde então, o nosso país tem sido apenas um destino “de férias” para as águias-pesqueiras que escolhem passar aqui o Inverno, para fugir do frio de países como o Reino Unido, Alemanha, Noruega e Suécia. Na 3ª edição do Censo nacional de águia-pesqueira invernante, a 14 de Janeiro, foram contadas entre 155 e 184 aves, um ligeiro aumento em relação ao ano passado, quando se contaram entre 135 e 150.

Em 2016, pela primeira vez desde há 20 anos, um casal de águias-pesqueiras teve duas crias. Aconteceu na zona do Alqueva, com indivíduos dos projectos de reintrodução da espécie em Portugal e na Andaluzia, graças aos esforços do programa de reintrodução da águia-pesqueira, realizado entre 2011 e 2015 e coordenado por uma equipa do CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos). Um outro casal, que nidificou na Costa Sudoeste, não chegou a ter crias confirmadas.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Pode acompanhar a vida no ninho de EJ e Odin aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.