Grifo Fronteira. Foto: António Candeias

Devolvido à natureza o primeiro grifo marcado com GPS na Peneda-Gerês

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Este grifo, libertado a 24 de Março em Melgaço, passa a fazer parte da rede de monitorização de ameaças para a fauna silvestre do projecto Sentinelas.

O grifo (Gyps fulvus), batizado de Fronteira, tinha sido encontrado debilitado por um criador de gado, que contactou o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), tendo sido levado para o Centro de Recuperação de Fauna Selvagem do Gerês. Aí esteve em recuperação durante cerca de quatro meses.

A 24 de Março foi devolvido à natureza junto a Castro Laboreiro, no concelho de Melgaço, em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês, numa actividade organizada pela Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural e pelo ICNF.

Grifo Fronteira. Foto: António Candeias

Mas antes de ser libertado foi anilhado e equipado com um emissor GPS-GSM e passou a integrar o projeto SentinelasRede de Monitorização de Ameaças para a Fauna Silvestre da Palombar, financiado pelo Fundo Ambiental e desenvolvido em parceria com a Universidade de Oviedo, em Espanha.

Segundo a Palombar, este é o primeiro grifo a ser marcado com um dispositivo GPS no Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Agora faz parte do projeto Sentinelas que está a monitorizar, através da marcação com dispositivos GPS, “espécies sentinelas de aves e mamíferos que são mais afetadas por diversas formas de perseguição ilegal, bem como por outro tipo de ameaças de origem antrópica, a avaliar a vulnerabilidade das espécies de fauna silvestre ao uso ilegal de venenos e a analisar as percepções sociais e os níveis de tolerância de diferentes grupos de interesse relativamente às espécies de fauna silvestre”, explica a organização em comunicado.

Devolução do grifo à natureza. Foto: Pedro Alves

O Fronteira foi anilhado com anilha metálica e outra de PVC vermelha com o código HC, a branco, e equipado com emissor GPS por Luís Pascoal Silva e Vanessa Mata do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto.

Por se tratar de um indivíduo juvenil, com comportamento dispersivo, este grifo irá agora explorar o território e será monitorizado de forma continuada pela equipa da Palombar. A monitorização será também essencial para avaliar o sucesso da recuperação e acompanhar a adaptação da ave ao meio natural.

Actualmente, não há registos oficiais da existência de grifos a nidificar no Parque Nacional ou da presença de colónias reprodutoras da espécie.

A libertação deste grifo foi acompanhada por 15 alunos do 6.º ano da Escola Básica e Secundária de Melgaço – Agrupamento de Escolas de Melgaço e por dois docentes.

Devolução do grifo à natureza. Foto: António Candeias

O grifo é uma das três espécies de abutres que existem e nidificam em Portugal e está classificada como “Quase Ameaçada” no território nacional. A utilização de iscos envenenados, a redução da disponibilidade de alimento, a diminuição da pecuária extensiva, a eletrocussão em linhas elétricas aéreas, a degradação dos habitats e a instalação de parques eólicos são as principais ameaças para esta espécie.

“Os abutres são essenciais para promover o equilíbrio e bom funcionamento dos ecossistemas. Estas aves têm a sua dieta baseada no consumo de animais mortos e eliminam, de forma rápida e eficaz, as carcaças que se encontram no campo, promovendo a sua limpeza e evitando a propagação de doenças. Adicionalmente, contribuem para a reciclagem de nutrientes e para o bom funcionamento da cadeia de alimentação na natureza.”


Os artigos desta secção são apoiados pela SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.