Diogo recebeu prémio da União Internacional de Conservação da Natureza

Diogo Veríssimo, 32 anos, é um “marketer” da conservação. Trabalha em vários países, como no Nepal e em São Tomé e Príncipe, a ajudar as populações locais a conviver e conservar tigres e tartarugas-marinhas. Este mês recebeu o prémio Young Professional Award da Comissão para a Educação e Comunicação da UICN (União Internacional de Conservação da Natureza), a entidade mundial para a protecção da natureza.

 

Diogo nasceu e cresceu em Lisboa. Hoje vive em Washington D.C., nos Estados Unidos, depois de passagens pelo Reino Unido e Costa Rica. O painel de júris deste prémio distinguiu Diogo e Linh Nguyen, que trabalha com pangolins, por serem prova do “carácter, criatividade e dedicação que vão garantir o sucesso da conservação no futuro”, segundo um comunicado. O prémio, que distingue o trabalho de conservacionistas com menos de 35 anos na área da comunicação, foi entregue no Congresso Mundial da UICN que decorreu no Havai de 1 a 10 de Setembro.

 

Wilder: Venceste, com Linh Nguyen, o prémio Young Professional Award da UICN. O que isto representa para ti?

Diogo Veríssimo: É muito motivador ver o meu trabalho reconhecido a este nível, se pensarmos na dimensão da UICN, que conta entre os seus membros com Governos de 170 países e cerca de 1.300 ONG. O prémio dá aos vencedores a possibilidade de participar no Congresso Mundial para a Conservação da Natureza, o maior congresso mundial nesta área e que conta com quase 10.000 participantes de todo o mundo. O valor real, no entanto, está no reconhecimento público que os vencedores recebem durante o evento e que tem o potencial de ser uma rampa de lançamento profissional. Além disso, esta distinção dá-me mais força para continuar a trabalhar numa área ainda nova que é o marketing da conservação (do inglês conservation marketing).

 

 

Wilder: E o que é um “conservation marketer”?

Diogo Veríssimo: É alguém que usa os conceitos e princípios do marketing para lidar com os desafios da conservação da natureza. O marketing é usado todos os dias para mudar os nosso hábitos como, por exemplo, o que compramos. Porque não usar estes mesmos princípios para mudar comportamentos prejudiciais para os indivíduos que os praticam e para a sociedade em geral? Esta ideia foi gerada nos anos 80 na área da saúde pública, mas está agora a aparecer também na área da conservação da natureza. A Sociedade para a Biologia da Conservação por exemplo, formou em 2015 um grupo de trabalho em Conservação e Marketing, de que sou presidente, e que conta agora com mais de 250 membros.

 

Wilder: Em que estás a trabalhar actualmente?

Diogo Veríssimo: Tenho vários projetos, todos ligados à mudança de comportamento humano e à conservação da natureza. Por exemplo, estou a trabalhar com o Zoo de Chester, em Inglaterra, para reduzir o conflito entre as comunidades humanas e os tigres no Nepal. Estou também a colaborar com a Associação para as Tartarugas Marinhas, uma ONG portuguesa, para reduzir o consumo de carne de tartarugas marinhas em São Tomé e Príncipe. Finalmente, estou também a trabalhar com a ONG americana Rare, num projeto global que visa melhorar a gestão das pescas artesanais em Moçambique, Brasil, Filipinas, Indonésia e Belize. Tudo isto usando conceitos e princípios de marketing para influenciar o comportamento humano e a forma como gerimos os recursos naturais.

 

Wilder: Qual foi o teu momento inspirador para o mundo natural?

Diogo Veríssimo: Não consigo eleger um momento único que tenha determinado o meu percurso. Apesar de ter crescido em Lisboa a minha família tem as suas raízes no interior rural de Portugal e sempre tive oportunidade de ter contacto com a natureza. Ao mesmo tempo, uma instituição que me marcou profissionalmente foi o Zoo de Lisboa onde comecei a trabalhar como guia e educador, quando tinha 17 anos. A possibilidade de ter o contacto com uma grande variedade de espécies criou em mim uma enorme curiosidade em descobrir mais e uma forte ligação emocional à diversidade da vida na Terra.

 

A fazer inquéritos no Brasil
A fazer inquéritos no Brasil

 

Wilder: Na tua opinião, como deveria ser a conservação no futuro?

Diogo Veríssimo: Tem de ser focada nas pessoas e em entender as opções que tomamos para o nosso estilo de vida. Passamos muito tempo a documentar extinções e declínios de espécies e ecossistemas. Mas se queremos verdadeiramente reduzir as ameaças à natureza temos de centrar o nosso esforço em influenciar os comportamentos humanos que todos os dias ditam a destruição de espécies e ecossistemas a nível mundial. Estes comportamentos são muitas vezes decisões pequenas e simples que fazemos todos os dias, mas que quando multiplicadas pelos biliões de pessoas a viver na Terra tomam uma dimensão global. Por exemplo, a forma como nos deslocamos, o que comemos, o forma como gerimos o lixo que produzimos, tem um enorme impacto na natureza à escala planetária.

 

Wilder: Como comentas a relação das pessoas com a natureza?

Diogo Veríssimo: A população do nosso planeta é cada vez mais urbana e esta realidade vai continuar a transformar a nossa relação com a natureza. Na minha opinião vai ser essencial garantir que a ligação entre as populações urbanas e o meio natural não deixa de existir.

 

Wilder: E como se pode fazer isso?

Diogo Veríssimo: A tecnologia, apesar de muitas vezes ser vista como uma barreira, é uma ferramenta vital para essa ligação das populações urbanas à natureza. Muitas delas têm um acesso muito limitado ao mundo natural. Ao mesmo tempo, as gerações mais jovens estão cada vez mais ligadas à tecnologia, desde as redes sociais à realidade virtual, e tentar contrariar esta tendência não nos vai levar a lado nenhum. Temos de abraçar o potencial que estas novas tecnologias trazem para melhorar a forma como a natureza é vista e valorizada.

 

 

Wilder: Então o que é preciso fazer para conquistar as pessoas para a maravilha da natureza?

Diogo Veríssimo: É preciso sermos mais criativos na forma como criamos oportunidades para a interação com o mundo natural e transmitimos mensagens sobre a natureza. Muitas vezes a natureza é apresentada num formato quase de sala de aula, fazendo com a receptividade do público seja baixa. Precisamos tentar outras abordagens.

 

Wilder: Que sugestões podes dar aos conservacionistas para comunicarem melhor com a sociedade?

Diogo Veríssimo: Por vezes é um desafio para quem faz da conservação da natureza a sua profissão perceber que a solução não é tornar toda a população mundial numa versão amadora de nós próprios. O verdadeiro objetivo é pormo-nos no lugar dos grupos com que queremos comunicar e perceber como é a sua relação com a natureza. Esta mudança de perspetiva, em que o receptor da mensagem é não só o centro da atenção mas também quem dita os canais e o formato da mensagem, vai ser fundamental para melhorar a forma como comunicamos a importância do mundo natural.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Conheça a plataforma de social media “I Fucking Love Biodiversity” que Diogo Veríssimo administra com alguns colegas, e que tem presença no Facebook, Twitter e Google+ . Actualmente são mais de 32.000 os seguidores que, todos os dias, recebem “informação surpreende e divertida sobre a biodiversidade do nosso planeta”, diz Diogo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.