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Macho de vaca-loura (Lucanus cervus), outra das espécies prioritárias na Europa. Foto: Rui Félix

Do Algarve ao Minho, vão procurar-se insectos para a Lista Vermelha

É já este sábado, 9 de Março, que arranca o trabalho de campo para a Lista Vermelha de Invertebrados Terrestres e de Água Doce de Portugal Continental. Até Agosto estão agendadas duas missões por mês, de sul para norte do território.

 

“Apesar da elevada riqueza de insetos em Portugal, que poderá ascender a 30.000 espécies, e da sua importância nos ecossistemas terrestres e de água doce, o conhecimento sobre a diversidade das comunidades em muitas zonas do país é inexistente ou claramente insuficiente”, sublinha a equipa coordenadora da Lista Vermelha, em comunicado.

É essa situação que estes especialistas querem inverter. O projecto, que começou em Junho de 2018, vai avaliar até 2021 o risco de extinção de várias centenas de espécies de insectos e de outros vertebrados em Portugal Continental.

A equipa quer realizar um plano de inventariação sistemática de insectos, que “passa por visitar todos os sítios de importância comunitária (SIC) da Rede Natura 2000, estando definidos 200 pontos de amostragem desde o Algarve ao Minho.” Segundo a directiva europeia Habitats, os SIC são sítios designados como importantes para a conservação de habitats ou de espécies protegidas ou também da biodiversidade local.

 

 

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A Euphydryas aurinia é uma das 11 espécies de invertebrados protegidas em Portugal. Foto: Albano Soares

 

Assim, até Agosto haverá missões duas vezes por mês, a começar pela que se inicia este sábado, dirigida à Costa Sudoeste e Barlavento Algarvio. As restantes missões vão seguir-se no Sotavento Algarvio e no Guadiana, progredindo sempre de sul para norte ao longo do país, até aos SIC de Trás-os-Montes. A última missão, entre 10 e 17 de Agosto, realiza-se no Minho.

Cada uma destas missões da Lista Vermelha vai ter quatro investigadores e prolongar-se por sete dias, com a aplicação de várias técnicas em cada ponto de amostragem: “Transectos de observação de borboletas e libélulas; batimentos e varrimentos da vegetação para amostragem de insectos polinizadores e que se alimentam de plantas; registo de som de gafanhotos e cigarras; arrastos aquáticos para amostragem de insectos de água doce; pesquisa directa procurando aleatoriamente insetos no solo, nas plantas, debaixo de pedras, nos troncos de árvores e nas flores”, descrevem os responsáveis.

Mas haverá outras técnicas aplicadas no terreno, nomeadamente a colocação de armadilhas, diferentes consoante os insectos que se querem atrair. Por exemplo? Coloridas para as moscas e abelhas; luminosas, tendo como alvo as borboletas nocturnas; de queda, para espécies que vivem no solo; armadilhas Malaise, para capturar insectos interceptando-os no voo. Estas últimas são feitas com redes.

 

A Macromia splendens é outra das espécies da Directiva Habitats que vão agora ser avaliadas. Foto: Rui Félix

 

“Este esforço pioneiro de amostragem de insetos pretende igualmente promover a colaboração do público”, adiantam os responsáveis. Para isso, um domingo de manhã por mês haverá investigadores disponíveis para explicar o projecto e envolver quem estiver interessado na recolha de insectos, utilizando diferentes técnicas. No total, estão já agendadas seis destas sessões, em locais diferentes do país.

De acordo com os investigadores, “este trabalho será determinante para obter informação actualizada sobre a distribuição das espécies [em Portugal Continental], especialmente em relação às 11 espécies de insectos listadas na Directiva Habitats e, como tal, protegidas em território nacional”.

“Contribuirá também para o melhor conhecimento da diversidade, biologia e ecologia das espécies da nossa entomofauna, permitindo assim avaliar o seu risco de extinção em Portugal Continental.”

 

Projecto vai ter plataforma web

Além dos insectos, a equipa quer também avaliar o risco de extinção de espécies de outros grupos de invertebrados: aranhas, crustáceos de água doce, bivalves e gastrópodes.

Prevista está também a criação de uma plataforma web de armazenamento e gestão de informação, onde vai ficar disponível informação para vários utilizadores: “técnicos, investigadores, entidades públicas e privadas com acção na conservação da biodiversidade e gestão de recursos naturais, bem como o público em geral, potenciando a sensibilização da sociedade para a conservação de invertebrados no nosso país.”

 

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O vaca-loura (Lucanus cervus) é outra espécie protegida para a qual os cientistas vão avaliar o risco de extinção. Foto: Rui Félix

 

A Lista Vermelha de Invertebrados Terrestres e de Água Doce de Portugal Continental é financiada pelo POSEUR – Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos e pelo Fundo Ambiental. Tem como beneficiário a FCiências.ID – Associação para a Investigação e Desenvolvimento de Ciências e como parceiro o ICNF – Instituto para a Conservação da Natureza e das Florestas.

A coordenação científica tese projecto é do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e conta como parceiros de execução com o TAGIS – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal), a BIOTA – Estudos e Divulgação em Ambiente e a associação Biodiversidade para Todos. Participam ainda diversas entidades, como a SPEN – Sociedade Portuguesa de Entomologia e o IPM – Instituto Português de Malacologia, e quase uma centena de investigadores de centros de investigação portugueses e de instituições estrangeiras.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Quer participar numa das seis sessões desta Lista Vermelha abertas ao público? Fique a conhecer onde e quando se vão realizar:

24 de Março: Estação da Biodiversidade da Ribeira do Vascão (Mértola)

21 de Abril: Praia da Aberta Nova (Grândola)

19 de Maio: Olhos de Água do Alviela (Alcanena)

16 de Junho: Museu Natural da Electricidade (Seia)

14 de Julho: Biosposts da Barragem do Prada (Vinhais)

11 de Agosto: Estação da Biodiversidade de Montedor (Viana do Castelo)

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Recorde porque é que serão necessárias várias Listas Vermelhas para avaliar o risco de extinção das espécies de invertebrados em Portugal.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.