lobo ibérico
Lobo ibérico conservado no Museu de História Natural, Lisboa. Foto: Joana Bourgard

Doença das vacas loucas alterou dieta dos lobos na Galiza

Os hábitos alimentares do lobo-ibérico (Canis lupus signatus) mudaram drasticamente com a doença das vacas loucas. Uma equipa de investigadores espanhóis estudou o que aconteceu a estes grandes carnívoros na Galiza e as suas conclusões foram agora publicadas na revista científica Environmental Management.

 

A partir de 2000, para evitar o contágio da doença de Creutzfeldt-Jakob ou encefalopatia espongiforme bovina, a legislação sanitária europeia passou a proibir o abandono nos campos de cadáveres de animais que morriam nas explorações de gado. A medida afectou as espécies necrófagas, como os abutres ibéricos, e outros animais, como os lobos.

Esta equipa da Universidade de Santiago de Compostela quis perceber quais os impactos da legislação sanitária europeia na conservação dos grandes carnívoros, através do caso do lobo-ibérico.

A população de lobo na Galiza passou dos 1000 indivíduos em 1988 para entre 420 a 625 entre 1999 e 2003, estima a Xunta da Galiza.

Laura Lagos e Felipe Bárcena analisaram a evolução da dieta dos lobos nessa região em dois períodos: antes da proibição (1974-1978) e depois (de 2003 a 2006). Os cientistas concluíram que nos anos 70 os lobos alimentavam-se sobretudo de cadáveres de animais de gado; a partir de 2004, a sua dieta mudou drasticamente em toda a Galiza, passando a ser baseada em corço, javali e garranos, cujas populações estão a aumentar.

“A expansão do corço e a existência na Galiza de uma população numerosa de garranos suavizou o impacto do desaparecimento dos cadáveres de gado”, disse Felipe Bárcena, citado pela agência espanhola Sinc.

Hoje, o corço parece ser a presa preferida do lobo em toda a Galiza. Ainda assim, há diferenças consoante as regiões. A Oeste, o corço e o javali têm mais relevância na dieta do lobo; nas montanhas a Este, é o garrano que predomina.

No artigo, os investigadores defendem acções para restaurar o habitat do lobo, a fim de “proporcionar uma comunidade de presas silvestres diversa e abundante, fundamental para conseguir que a população de lobos supere as alterações naturais ou artificiais do seu habitat e para reduzir os conflitos com os criadores de gado”.

Actualmente existem dez populações de lobo na Europa. Estima-se que existam 2.800 lobos-ibéricos, 300 dos quais em Portugal.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.