Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ/arquivo

Dois linces abatidos com dezenas de chumbos em Espanha

A Guardia Civil espanhola está numa caça ao homem e pede ajuda aos cidadãos para encontrar os responsáveis pela morte de dois linces-ibéricos nas últimas duas semanas na Andaluzia. Um dos animais tinha cem chumbos no corpo.

 

A 13 de Setembro foi encontrado o cadáver de uma fêmea de lince-ibérico (Lynx pardinus), com pouco mais de um ano de idade, numa reserva de caça na localidade de Villanueva de la Reina, na província espanhola de Jaén. Segundo o projecto de conservação Iberlince, o animal deveria pertencer aos núcleos de linces da Serra Morena, o grande bastião da espécie na Península Ibérica.

“Um acidente não foi”, acredita o Serviço de Protecção da Natureza (Seprona) da Guardia Civil , citado pelo jornal espanhol El País. Nas radiografias realizadas na necropsia podem ver-se cerca de 100 chumbos de seis milímetros de diâmetro.

 

Foto: Iberlince

 

Pela grande quantidade de chumbos no cadáver, os investigadores acreditam que o disparo foi feito a pouca distância. “Não é um acidente de caça”, acrescentam as mesmas fontes do Seprona ouvidas pelo El País.

A Federação Andaluza de Caza já expressou o seu lamento e a “mais firme condenação” pela morte deste lince. Na sexta-feira passada divulgou uma nota onde diz que “quem comete este tipo de actos são delinquentes e criminosos e não caçadores”. “O caçador só é caçador quando respeita a Lei e ama o campo e a natureza. Jamais este tipo de comportamentos criminosos se pode associar à actividade cinegética, pois não faz parte dela”, comentou José María Mancheño, presidente da Federação. Este quer que se apurem responsabilidades e que quem tenha cometido este delito responda perante a Justiça.

Neste momento, a Guardia Civil está a pedir a colaboração dos cidadãos para localizar o autor dos disparos que causaram a morte a este lince-ibérico, de uma espécie que está classificada como Em Perigo de extinção a nível mundial.

 

https://twitter.com/guardiacivil/status/917106069494566913

 

O Seprona da Guardia Civil fez o pedido nas redes sociais e facilitou um email ([email protected]) para que quem tiver informações as possa partilhar directamente.

Nesta segunda-feira, de madrugada, os técnicos da Junta da Andaluzia receberam o aviso de que um outro cadáver de lince-ibérico tinha sido encontrado junto à estrada A-301, no município de Vilches (Jaén).

“Tratava-se de uma cria macho, sem radio-colar, nascida em 2017 na população selvagem da Serra Morena, no núcleo de Guarrizas”, informou hoje o Iberlince em comunicado.

O cadáver deste animal foi levado para o Centro de Análises e Diagnóstico da Fauna Selvagem da Junta da Andaluzia, onde foi feita a necropsia. “Os resultados determinaram que a causa da morte foi traumatismo por disparo frontal e esmagamento craniano. Na análise radiológica são visíveis cerca de 15 projéteis com chumbo, a maioria alojados na cabeça.”

 

Foto: Iberlince

 

O lince-ibérico é uma espécie classificada desde 22 de Junho de 2015 como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo.

Actualmente existem 483 linces-ibéricos na natureza, segundo os resultados definitivos do censo de 2016, revelados a 30 de Março passado pelo programa Iberlince. A maioria, 397, está nas populações da Andaluzia (Doñana-Aljarafe e Serra Morena: Guadalmellato, Guarrizas e Andújar-Cardeña). Além destes 397 animais, 19 vivem em Portugal, no Vale do Guadiana; 28 em Matachel (Badajoz), 23 em Montes Toledo (Toledo) e 16 na Serra Morena Oriental.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.