Malva e as suas crias. Foto: Técnico/ICNF/LIFE Iberlince

Dois linces-ibéricos morreram numa charca no Vale do Guadiana

A fêmea Malva e a sua filha com um ano Oriana foram encontradas mortas numa charca para rega de olival a 29 de Agosto, informou o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Malva deixou quatro crias nascidas nesta Primavera.

 

“Os animais foram encontrados durante uma ação de monitorização do núcleo reprodutor de linces do Vale do Guadiana, desenvolvida pelos Vigilantes da Natureza do Departamento de Conservação da Natureza das Florestas do Alentejo”, explica o ICNF em comunicado divulgado hoje.

Malva tinha três anos de idade e foi mãe de quatro crias nesta Primavera com o macho Mundo. Esta fêmea vivia em liberdade no Vale do Guadiana desde a sua libertação no campo a 19 de Fevereiro de 2016. Com ela morreu afogada uma das suas primeiras crias do ano passado, Oriana, com um ano de idade.

“Apesar da preocupação demonstrada pelo proprietário na disponibilização de meios de fuga da charca referenciada, o repentino abaixamento das águas, devido à rega, tornou inacessível a rampa, resultando neste acidente”, acrescenta o ICNF.

No total, Malva teve oito crias viáveis em duas épocas reprodutoras. De acordo com o instituto, as suas quatro crias deste ano “já terão capacidade de sobrevivência independente da progenitora”.

Nos próximos dias, o ICNF “fará um acompanhamento mais intenso destes jovens linces”.

Além disso, vai procurar “eventuais situações similares de risco nas áreas onde existem territórios estabelecidos pelos linces, além de diligenciar para que sejam instaladas outras estruturas de fuga da charca onde os animais foram encontrados mortos”.

Apesar deste incidente, o ICNF salienta que “a população de linces do Vale do Guadiana está em expansão territorial e populacional, tendo este ano nascido pelo menos 23 crias em estado selvagem”.

Malva foi um dos linces reintroduzidos na natureza na Península Ibérica, uma iniciativa enquadrada no projecto transnacional LIFE Iberlince (LIFE+10/NAT/ES/000570), o qual pretende estabelecer populações estáveis e viáveis da espécie na Península Ibérica.

O lince-ibérico (Lynx pardinus) é um dos felinos selvagens mais ameaçados do mundo, um dos predadores carismáticos. É uma espécie classificada desde 22 de Junho de 2015 como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo.

Actualmente a população mundial de lince-ibérico está estimada em 547 animais. Destes, 448 vivem na Andaluzia.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.