Dois terços das borboletas do Reino Unido “gostaram” da onda de calor de 2018

Mais de dois terços das espécies de borboletas do Reino Unido (39 de 57) foram vistas em maiores números no ano passado, em relação a 2017, segundo um estudo divulgado este mês pela Butterfly Conservation.

 

Duas espécies raras, a grande-borboleta-azul (Phengaris arion) e a borboleta da espécie Satyrium pruni, chegaram mesmo a ter o seu melhor ano desde que há registos.

 

Grande-borboleta-azul. Foto: PJC&Co

 

Os números da grande-borboleta-azul aumentaram 58% e os da Satyrium pruni aumentaram mais de 900% em relação a 2017.

Ambas as espécies beneficiaram do tempo mais quente e soalheiro quando as borboletas estavam na fase de adulto, no início do Verão. Além disso, o frio de Fevereiro e Março poderá ter ajudado a melhorar a sobrevivência das lagartas e das crisálidas.

Mas apesar destes números impressionantes, 2018 acabou por ser um ano mediano para as borboletas britânicas como um todo.

“O ano de 2018 trouxe algum alívio para as borboletas, depois de cinco anos seguidos abaixo da média”, explicou, em comunicado, Tom Brereton, responsável pela monitorização das borboletas na organização Butterfly Conservation.

“Mas não haviam tantas borboletas por aí quanto o que seria de esperar, perante o tempo fabuloso em grande parte da época das borboletas. 2018 foi classificado como apenas ligeiramente acima da média.”

A verdade é que dois terços das espécies estão em aparente declínio desde que começaram os registos, em 1976, e 21 destas espécies têm declínios significativos de longo prazo, segundo a monitorização anual das borboletas do Reino Unido (UK Butterfly Monitoring Scheme, UKBMS), feito pela Butterfly Conservation, pelo Centro para a Ecologia e Hidrologia, pelo British Trust for Ornithology e pelo Joint Nature Conservation Committee. No ano passado, centenas de voluntários recolheram dados durante o Verão em 2.873 locais no Reino Unido.

A Primavera quente e o tempo de Verão não foram ideais para todas as espécies. A seca foi um enorme desafio para algumas borboletas, uma vez que destruiu as plantas que as suas lagartas precisam para se alimentar.

Este foi o caso da borboleta Pyronia tithonusque registou uma queda de 20% em relação a 2017, mas também da borboleta-douradinha (Thymelicus sylvestris), com uma queda de 24%, e da borboleta-capitão (Thymelicus lineola), com 32%.

O ano passado foi surpreendentemente mau para algumas espécies favoritas de jardins. A tartaruga-pequena (Aglais urticae) registou uma queda de 38% e a almirante-vermelho (Vanessa atalanta) 75% depois de ter tido um bom ano em 2017.

“Estes resultados salientam a escala do desafio que temos pela frente para recuperar estas espécies e para criar um ambiente mais saudável para elas”, acrescentou Tom Brereton.

“Ainda é preciso fazer mais para melhorar as condições nas zonas rurais para que mais borboletas possam tirar vantagens do bom tempo”, comentou Marc Botham, do Centro para a Ecologia e Hidrologia, organismo que também participou no estudo. “E isso pode começar nos nossos jardins e quintais, deixando áreas onde não cortamos a erva e plantando espécies de flores selvagens autóctones.”

De momento desconhecem-se os efeitos a longo prazo da onda de calor de 2018. “Sabemos que eventos climáticos extremos como este, que deverão aumentar com as alterações climáticas, são geralmente maus para as borboletas”, lembrou Brereton.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Em Portugal, especialistas estão a avaliar o risco de extinção de mais de 700 espécies de invertebrados, onde se incluem muitas espécies de borboletas. Saiba mais aqui.

Recorde aqui o que andam os investigadores a fazer nesta altura do ano, nos trabalhos de campo para a Lista Vermelha de grupos de Invertebrados Terrestres e de Água Doce.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.