Dormitórios flutuantes para ajudar aves exaustas instalados na Coreia do Sul

Com o aumento do nível da água do mar, há aves limícolas migradoras que estão a ficar sem locais para pousar e descansar. A Coreia do Sul está a testar uma solução: dormitórios flutuantes.

O Estuário Geum, na costa sul-coreana de Seocheon, confinando com o Mar Amarelo, é uma zona crucial para a rota migratória de muitas aves na Ásia.

É procurado por aves limícolas ameaçadas como o pilrito-colhereiro (Calidris pygmaea) – Criticamente Em Perigo – e o maçarico-siberiano (Numenius madagascariensis) – Em Perigo. Por isso foi reconhecido como Sítio Ramsar, ou seja, zona húmida de importância internacional.

Mas, ao longo do Estuário Geum, os dormitórios para estas e outras aves limícolas migradoras têm vindo a ser destruídos pelo desenvolvimento costeiro e pelo aumento do nível da água do mar, alerta a Birdlife International, numa nota divulgada hoje.

“As aves limícolas migradoras, que precisam destes locais de dormitório para descansar durante as suas longas migrações, estão a perder um habitat valioso.”

“Assistir a 10.000, 15.000 aves limícolas desesperadamente a sobrevoar a zona costeira em círculos, durante a maré cheia, é uma visão mágica mas perturbadora”, descreve Chris Purnell, gestor do Roost Trial Project.

“Quanto mais tempo permanecem no ar, menos combustível terão para completar a viagem que ainda têm pela frente.”

O ideal é conservar e restaurar estes locais de dormitório. Mas quando isso é impossível, uma opção de último recurso é tentar construir dormitórios artificiais flutuantes.

Ao ver as aves a aproveitar as infraestruturas da aquacultura de ostras, a Birdlife Austrália teve uma ideia: transformar os sacos usados para criar ostras em dormitórios flutuantes.

Para testar a ideia foram propostos três Sítios Ramsar na Austrália, mas foi no Estuário de Geum, na Coreia do Sul, que a experiência começou.

Os dormitórios artificiais foram instalados no início deste ano, com os sacos cheios de conchas vazias apanhadas no estuário. Técnicos locais têm monitorizado estas estruturas para ver se as aves as começavam a usar.

O primeiro sinal de sucesso chegou a 8 de Maio, quando 28 aves limícolas foram observadas a usar as estruturas flutuantes, às quais se juntaram mais 15 quando a maré começou a baixar.

Nos dias seguintes, 35 aves chegavam durante a maré cheia e mais algumas quando a maré começava a recuar. No final de Maio, imagens captaram quase 300 aves a usar as estruturas.

Os resultados finais do projecto são aguardados para 2020. Estes permitirão decidir o que fazer a seguir: remover, adaptar ou expandir a experiência.

As equipas de peritos também estão a estudar o uso de materiais naturais tradicionais, de artesanato, criados por comunidades indígenas locais, para formar os dormitórios. O objectivo é reduzir o uso de plásticos e apoiar as economias locais.

“Estamos optimistas em como as experiências terão sucesso”, comentou Young-Min Moon, coordenador do projecto para a Birdlife Ásia. “Já nos deram conhecimento que alguns governos e agentes locais estão interessados na ideia depois de ver que as aves estão a usar os dormitórios flutuantes artificiais”, acrescentou.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.