flamingos no meio de um curso de água
Flamingos. Foto: Andrea Schaffer/Wiki Commons

Drones usados para contar crias de flamingos na Andaluzia

Pela primeira vez, a Andaluzia utilizou drones para contar as crias de flamingos-comuns nas colónias desta espécie em Marismas del Odiel (Huelva) e em Fuente de Piedra (Málaga), foi hoje revelado.

 

O drone, adquirido pela Agência de Meio Ambiente e Água da Andaluzia, “permite captar imagens em melhores posições para as contagens realizadas posteriormente, num gabinete”, frente ao computador, explica um comunicado da Junta de Andaluzia. Além de permitir aumentar o grau de precisão das contagens, reduz a perturbação das crias.

Esta iniciativa faz parte do Plano de Recuperação e Conservação das Aves das Zonas Húmidas. O drone foi concebido especialmente para o seguimento da fauna selvagem, tendo em atenção a redução do ruído e a detectabilidade.

Além disso, os peritos que tripulam estas aeronaves são biólogos com vários anos de experiência em seguimento da fauna ameaçada e, por isso, conseguem interpretar qual o impacto que está a ser provocado nos animais.

Este trabalho de contagem das crias de flamingo-comum é prévio à anilhagem. É nessa fase que se analisam as zonas onde as crias se agrupam para procurar protecção e onde são guardadas por poucos adultos. Os restantes progenitores estão à procura de alimento para depois dar às crias.

“A planificação do dispositivo de captura e marcação das novas crias exige que esta contagem seja o mais exacta possível”, explica a Junta da Andaluzia. Nos primeiros anos eram realizadas contagens a partir de terra, “com grandes dificuldades e erros”. Depois, esta técnica foi substituída pela análise de fotografias aéreas captadas a partir de avionetas. Mas os custos eram elevados e existia o risco de perturbação das crias.

Desde 1986, a agência faz um seguimento intensivo do flamingo-comum. Isto inclui o estudo da sua reprodução e a anilhagem científica de uma parte da população nascida nos dois núcleos reprodutores andaluzes: Marismas del Odiel e Fuente de Piedra.

Esta metodologia de marcação permite, mediante a leitura das anilhas à distância, obter dados sobre vários aspectos da biologia desta ave, como a estrutura da idades ou a taxa de mortalidade. “Tudo isto serve para compreender a dinâmica populacional da espécie e desenvolver uma gestão necessária e racional. Neste sentido, o flamingo-comum é uma das espécies que mais informação dá com este tipo de metodologia”, acrescenta o comunicado.

A lagoa de Fuente de Piedra representa o maior núcleo reprodutor de flamingos do Mediterrâneo ocidental e do Noroeste de África. É a este núcleo que pertence a maioria dos flamingos que podemos observar em Portugal, país onde a espécie não nidifica.

No ano passado, 19.000 casais destas aves elegantes nidificaram ali e foram registadas, pelo menos, 10.000 crias.

O flamingo não nidifica em Portugal. No final dos anos 80 foi registada uma tentativa de nidificação nos sapais de Castro Marim, mas sem sucesso. Depois, outro caso de nidificação da espécie foi anunciado em Maio de 2010, na Lagoa dos Salgados, no Algarve, entre os concelhos de Albufeira e Silves. Um observador de aves encontrou dois ninhos e avisou a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea). Depois de a associação lá ter ido, confirmou a nidificação. Mas não houve crias.

Em Portugal, a espécie pode ser observada durante todo o ano nas zonas húmidas litorais desde o estuário do Tejo até ao Algarve. Procura águas pouco profundas ou lamas entre-marés. A maioria dos indivíduos vem das colónias de Espanha, nomeadamente de Fuente Piedra e do Delta do Ebro, e do Sul de França (Camargue).

Estima-se que 7.500 flamingos passem o Inverno em Portugal, segundo o livro “Aves de Portugal” (2010).

Os locais mais importantes são os estuários do Tejo, do Sado, a Ria Formosa e a Reserva Natural de Castro Marim.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.