Em 2021, removeram-se 239 barreiras fluviais na Europa. Portugal estreou-se

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Ribeira. Foto: Helena Geraldes (arquivo)

O objectivo é ajudar os peixes migradores, que a caminho dos locais de desova são bloqueados por inúmeros obstáculos que os impedem de chegar ao destino.

Restaurar pelo menos 25.000 quilómetros de rios de livre curso é uma das principais metas da Estratégia da União Europeia para a Biodiversidade 2030. Calcula-se que por toda a Europa haverá hoje um total de 1,2 milhões de barreiras fluviais que fragmentam o livre curso dos rios, em muitos casos há mais de um século.

As contas são da Dam Removal Europe, uma parceria entre sete diferentes organizações, incluindo a WWF – World Wildlife Fund (Holanda, Suíça e Finlândia), a Rewilding Europe e a Fundação Mundial para os Peixes Migradores – que é autora do relatório anual agora apresentado.

Segundo este documento, em 2021 foram removidas pelo menos 239 barreiras fluviais em 17 países da Europa, um aumento de 137 por cento face ao ano anterior, que “confirma o movimento e interesse crescentes no restauro de rios” neste continente. Das barreiras retiradas, 87 por cento eram açudes e 87 por cento tinham menos de dois metros.

“A remoção de barragens é a ferramenta mais eficiente para restaurar o livre curso de rios cheios de peixes”, sublinha o director da Fundação Mundial para os Peixes Migradores, Herman Wanningen. “Esta ferramenta deveria ser implementada por todo o lado na Europa, a começar pelas barreiras velhas e obsoletas que estão fora de uso ou já não têm uma função económica.”

O recorde pertence a Espanha, que removeu 108 barreiras no total, incluindo a barragem mais alta desmantelada no ano passado, com uma altura de 13 metros. Seguiram-se a Suécia (40) e a França (39). “O país ibérico continua a remover barragens a um ritmo crescente, demonstrando mais uma vez a importância de uma lei que obriga ao descomissionamento de barragens obsoletas”, indica o mesmo documento.

Rio Vascão

Portugal surge pela primeira vez no relatório, tal como o Montenegro e a Eslováquia. No caso português, em Outubro passado foi removida uma barreira fluvial no rio Vascão, um afluente da margem direita do Guadiana. As obras traduziram-se na substituição de uma travessia rodoviária com diversos arcos, que bloqueava o curso livre das águas e dos peixes do rio, por uma ponte que permite a passagem “de todos os peixes”.

“Apesar da grande importância ecológica, o rio Vascão é fortemente fragmentado por pequenas estruturas, como travessias rodoviárias e açudes”, explica o relatório. Neste rio, estão contabilizadas ainda outras 17 barreiras que se considera que “têm um impacto substancialmente negativo na migração de peixes”.

Quanto à Finlândia, foi desmantelada uma central hidroeléctrica em funcionamento, depois de as autoridades terem concluído que os benefícios ambientais dessa acção seriam superiores aos custos para a produção de energia, indica a Dam Removal Europe.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.