Em perigo: 370 quilos de meixão apreendidos desde Fevereiro já foram devolvidos à natureza

Entre Fevereiro e Maio, sete operações contra o tráfico de meixão (a fase juvenil da enguia-europeia, Anguilla anguilla) terminaram na apreensão de 369,4 quilos desta espécie. O ICNF revelou que, entretanto, os animais já foram devolvidos à natureza.

Na primeira operação, realizada a 25 de Fevereiro, foram apreendidos cerca de 80 quilos durante o seu transporte, revelou ontem à tarde o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) em comunicado.

A 30 de Março, uma operação no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, acabou na apreensão de 10 quilos de meixão.

As outras cinco operações aconteceram no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, a 2 de Abril (apreendidos cerca de 46 quilos), a 3 de Abril (68,4 quilos), 11 de Abril (69,2 quilos), 22 de Abril (51,2 quilos) e a 2 de Maio (44,6 quilos).

Apenas 200 gramas de meixão correspondem a cerca de 600 espécimes.

“Todos os casos de tráfico identificados estão agora sob a responsabilidade de Procurador da República, que coordena as tarefas entre todas as várias forças policiais envolvidas”, explicou o ICNF, que acompanhou as operações.

“As enguias de vidro, ou meixão, são pesadas, sem água, e devolvidas à natureza numa área da bacia hidrográfica mais próxima da apreensão.”

Apesar de em tempos ter sido muito frequente e abundante por toda a Europa, hoje a enguia-europeia está em declínio acentuado.

Esta espécie, classificada como Criticamente Em Perigo pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), enfrenta ameaças globais, como as alterações climáticas, mas também locais, como as barragens que lhes impede as migrações nos rios e a captura ilegal de meixão.

Todos os anos no início do Inverno, as enguias adultas saem dos rios um pouco por toda a Europa em direcção ao mar. Depois de uma viagem de milhares de quilómetros, as enguias chegam ao seu destino, o Mar dos Sargaços. Aí vão reproduzir-se e morrer. As larvas suas descendentes tornam a fazer a viagem de regresso aos rios da Europa, ao sabor das correntes oceânicas, demorando mais ou menos dois anos a chegar às águas doces e salobras de onde os progenitores partiram. Uma vez aí chegadas, ocorre a metamorfose para o estádio seguinte, conhecido como o meixão. Se não forem capturadas, chegam à fase adulta.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.