Foto: GREFA

Em perigo: já arrancou o plano que nos próximos anos vai reintroduzir milhafres-reais na Andaluzia

Os primeiros 21 milhafres-reais (Milvus milvus) foram libertados a 15 de Setembro no Parque Natural de las Sierras de Cazorla, Segura y las Villas (Jaén) no âmbito de um plano que, nos próximos anos, vai realizar soltas para reforçar a população desta espécie ameaçada na Andaluzia.

O milhafre-real (Milvus milvus) é uma das aves de rapina mais ameaçadas em Portugal. A população nidificante, que se reproduz no país, é considerada Criticamente em Perigo de extinção. Quanto aos milhafres que apenas passam o Inverno em Portugal e se reproduzem noutros países da Europa, estão em situação Vulnerável.

Em Espanha, a Andaluzia começou este mês um projecto de reintrodução para ajudar a espécie a recuperar na província junto à fronteira com Portugal.

Milhafres-reais no recinto de aclimatação, momentos antes da sua libertação definitiva na natureza. Foto: GREFA

A libertação dos 21 milhafres-reais surge no âmbito do Plano de Recuperação das Aves Necrófagas da Andaluzia e foi desenvolvida pela Junta andaluz e pela GREFA, associação conservacionista especializada na recuperação de fauna ameaçada através de acções de reintrodução e reforço populacional.

Os milhafres-reais nasceram este ano. Uns vieram de Mallorca, onde foram retirados de vários ninhos na natureza por técnicos e agentes ambientais especializados do governo das Ilhas Baleares. Outros vieram de Aragão, que tem um programa de reprodução em cativeiro dedicado a esta espécie, no Centro de Recuperação de Fauna Silvestre de La Alfranca (Saragoça).

Estas aves foram recolhidas pela GREFA e levadas, numa primeira fase, para o centro de recuperação de fauna selvagem que gere em Majadahonda (Madrid). Ali fez-se uma revisão veterinária às aves e foi confirmado que estavam prontas para serem levadas para Cazorla e serem libertadas na natureza.

Os milhares-reais foram libertados utilizando o método “hacking”, usado para recuperar aves de rapina pela sua eficácia para fixar as aves a um determinado território, diferente daquele onde nasceram.

A solta aconteceu a 15 de Setembro às primeiras horas da manhã, quando as aves foram libertadas do recinto de aclimatação onde tinham passado as últimas semanas. Todas as aves levaram emissores GPS que vai permitir seguir os seus movimentos no meio natural.

Milhafres-reais no recinto de aclimatização. Foto: GREFA

A libertação destes milhafres-reais é a primeira actuação de um plano experimental de soltas programadas, com vários anos de duração, para reforçar a população andaluza da espécie. Catalogado como Em Perigo de extinção, o milhafre-real é a rapina mais ameaçada da Andaluzia. “Actualmente, a população andaluza de milhafre-real está praticamente extinta, já que se limita a uma dezena de casais reprodutores que habitam no Espacio Natural de Doñana”, segundo a GREFA. “No sector ocidental da Sierra Morena contabilizam-se outros seis exemplares, mas estes milhafres-reais estão mais integrados na população da Extremadura.”

Segundo a GREFA, este plano tem muitas semelhanças ao programa de reintrodução do quebra-ossos, que também está a decorrer no Parque Natural de Cazorla.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.