Golfinho roaz. Foto: Cloudette_90/WikiCommons

Embarcação está até Setembro no Sado a apelar à protecção dos golfinhos

A campanha “Proteger os Golfinhos”, na sua 8ª edição, explica a todas as embarcações que navegam nas águas do Estuário do Sado como ajudar a proteger a população de golfinhos-roazes da região.

Até 19 de Setembro, a embarcação da campanha “Proteger os Golfinhos” estará a navegar nas águas do Estuário do Sado para “sensibilizar para a conservação dos roazes do Sado e do seu habitat”, explicam os organizadores da campanha em comunicado enviado hoje à Wilder.

A embarcação está a fazer circuitos regulares pelo estuário e espaço marítimo adjacente em Agosto (de quinta-feira a domingo) e em Setembro (aos fins-se-semana e feriados) e a abordar embarcações de particulares e actividade turística que naveguem nestas águas, “sensibilizando para a adopção de comportamentos apropriados no avistamento e aproximação aos animais, assim como os cuidados necessários à sua preservação”.

O objetivo é “sensibilizar a população local, turistas e visitantes para os cuidados a ter na navegação aquando do avistamento e aproximação aos golfinhos, no sentido de evitar perturbá-los e garantir a sua permanência no estuário”.

Actualmente vivem no estuário do Sado cerca de 30 golfinhos-roazes (Tursiops truncatus). Esta é uma das poucas populações de golfinhos que residem num estuário, o que a torna singular em Portugal e rara na Europa.

O golfinho-roaz tem uma coloração predominantemente cinzenta, com o dorso ligeiramente mais escuro. Pode chegar aos 3,8 metros de comprimento e, por vezes, mergulha a mais de 100 metros de profundidade para se alimentar. Estes animais podem viver entre 30 e 40 anos.

Existem períodos críticos em que estes golfinhos são particularmente vulneráveis, podendo a presença humana alterar os seus comportamentos, como por exemplo períodos de gestação das fêmeas e adaptação das respetivas crias ao meio.

“Nos meses de verão – altura em que as atividades turísticas e de recreio náuticas são mais expressivas, com um maior número de embarcações e um maior número de saídas para observação de golfinhos – a importância desta iniciativa acentua-se”, acrescentam os responsáveis.

Outro objectivo desta iniciativa é contribuir para a implementação efectiva do Regulamento da Actividade de Observação de Cetáceos nas Águas de Portugal Continental por parte de todos os utilizadores de embarcações no Estuário do Sado.

No âmbito da campanha “Proteger os Golfinhos” os tripulantes da embarcação disponibilizam um código de conduta, “um conjunto de regras a seguir para que todos possam observar os golfinhos em segurança, uma vez que uma navegação descuidada pode impedir o descanso, a alimentação, socialização e reprodução e, ainda, interferir na comunicação entre eles”.

Por exemplo, o Código de Conduta aconselha as embarcações a não permanecerem mais de 30 minutos na proximidade de um grupo de golfinhos, a evitar mudanças bruscas de velocidade e direção, a não excederem a velocidade de deslocação dos animais, a manter um rumo paralelo e pela retaguarda dos golfinhos, de modo a que estes tenham um campo livre de 180º à sua frente e a evitar fazer ruídos na proximidade dos roazes, que os perturbem ou atraiam.

A campanha que começou em 2014, com cerca de 350 embarcações contactadas nesse primeiro ano, é uma iniciativa promovida pela Tróia-Natura e pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Segundo os responsáveis, em oito anos esta campanha já chegou a mais de 18.000 pessoas.

Na década de 1980, quando os cientistas começaram a estudar os golfinhos roazes do Estuário do Sado, contavam-se cerca de 40 animais. Mas as condições foram-se degradando. Em 2005 sobravam apenas pouco mais de metade – 22 – à mercê das águas poluídas.

Contudo, nos últimos 10 anos, as crias começaram a sobreviver e os golfinhos deixaram de emigrar tanto, muito graças à aplicação de regras mais pesadas quanto à qualidade e limpeza das águas e a uma diferença de postura das autoridades, que começaram a apostar no turismo de natureza. 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.