Encontradas espécies raras de tubarões na costa sudoeste de Portugal

O tubarão-gnomo, o tubarão-cobra e o tubarão-porco são três espécies de tubarões bastante raros encontrados por investigadores do CCMAR, na costa sudoeste de Portugal, revelou recentemente a Universidade do Algarve.

A descoberta aconteceu em Março durante uma saída de campo da equipa de investigadores do projecto DELASMOP, dedicado aos elasmobrânquios (tubarões e raias) de profundidade.

Segundo este projecto, “mais de 25% das espécies de raias e tubarões (elasmobrânquios) estão ameaçadas de extinção. Estes animais são vulneráveis a diversas atividades humanas como a pesca excessiva (direta ou como pesca acessória), uma vez que crescem lentamente e produzem um baixo número de crias em cada ciclo reprodutivo”.

“A situação é ainda mais preocupante para as espécies de elasmobrânquios de profundidade, uma vez que apresentam ciclos de vida mais lentos e o conhecimento do estado das suas populações é difícil de avaliar dado que vivem em habitats de difícil acesso.”

A saída de campo de Março pretendeu melhorar o conhecimento sobre estes animais. 

Nessa saída, os investigadores “encontraram e identificaram na costa sudoeste 15 espécies de elasmobrânquios de profundidade, incluindo alguns bastante raros: o tubarão-gnomo (Mitsukurina owstoni), o tubarão-cobra (Chlamydoselachus anguineus) e o tubarão-porco (Oxynotus paradoxus)”, segundo um comunicado do CCMAR (Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve) de 14 de Maio. 

Sofia Graça Aranha com tubarão-cobra. Foto: CCMAR

“Há muito para aprender e descobrir sobre os oceanos, principalmente em relação aos ecossistemas marinhos profundos, onde habitam criaturas especiais como os tubarões e raias”, acrescentou o comunicado.

Após a recolha de alguns dados importantes para o estudo dos investigadores, como medições e amostras de sangue para análise da dieta, o tubarão-cobra foi libertado novamente no oceano. 

“O tubarão-gnomo e o tubarão-porco não tiveram a mesma sorte e não sobreviveram à captura. Assim, os investigadores conseguiram também recolher amostras de músculos e itens estomacais, o que permitirá chegar a informações importantes sobre estas espécies tão pouco estudadas.”

Segundo o CCMAR, ainda se sabe muito pouco sobre o tubarão-gnomo e o tubarão-cobra, que estão avaliados como Pouco Preocupantes na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

Tubarão-cobra. Foto: CCMAR

“Com os barcos de pesca a aventurarem-se cada vez mais a pescar em águas mais profundas devido à escassez de peixe próximo da costa, isto pode representar uma ameaça para estes animais, pois apresentam uma baixa resiliência à exploração”, alerta aquele Centro.

No Algarve, as rejeições da pesca de arrasto de crustáceos representam cerca de 70% do total capturado. Grande parte dos animais rejeitados nestas pescarias são os elasmobrânquios, uma vez que muitas espécies não têm interesse comercial ou estão sob alguma proteção, através de medidas regulamentares.

Em 2018 e 2020, entre 80 a 90% dos elasmobrânquios capturados já chega a bordo morto ou em más condições, segundo os dados recolhidos pelos investigadores do CCMAR.

O projecto DELASMOP pretende “preencher algumas lacunas de conhecimento em relação aos elasmobrânquios de profundidade, investigar quais os impactos que estes animais sofrem devido às pesca de arrasto de fundo em Portugal, principalmente no Algarve, e tentar encontrar soluções para diminuir as suas capturas e mortalidade nestas pescarias”.

Este projecto é financiado pelo prémio da Save our Seas Foundation que foi atribuido à doutoranda da Universidade do Algarve e do CCMAR Sofia Graça Aranha, e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e conta também com apoio técnico por parte da empresa OLSPS marine. Resulta da parceria entre o CCMAR, o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) da Universidade do Porto e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.