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Encontrado em Portugal o mais antigo crocodilo fóssil conhecido

Paleontólogos portugueses descobriram uma nova espécie de crocodilo fóssil em Tentúgal (Montemor-o-Velho), com 95 milhões de anos. Isto muda o que os cientistas pensavam sobre a origem dos crocodilos.

 

“Este fóssil é único na sua anatomia e é a peça-chave para compreender as fases iniciais da evolução dos crocodilos, por ser o mais antigo do grupo a que chamamos Crocodylia, os verdadeiros crocodilos”, explicou, em comunicado, Octávio Mateus, paleontólogo da Universidade Nova de Lisboa e autor do artigo publicado na revista Zoological Journal of the Linnean Society.

A nova espécie, Portugalosuchus azenhae, recebeu este nome científico para homenagear Matilde Azenha, quem encontrou o crânio. O fóssil, que compreende um crânio e a mandíbula, foi recolhido perto de Tentúgal, no centro de Portugal, e estará em breve em exibição no Museu da Lourinhã.

 

 

Os répteis semelhantes a crocodilos, os crocodilomorfos, existiam desde os primórdios dos dinossauros.

No entanto, os verdadeiros crocodilos – pertencentes ao clado Crocodylia, como a nova espécie com cerca de 95 milhões de anos encontrada em Tentúgal – remontam a 20 milhões de anos a origem dos verdadeiros crocodilos, segundo o estudo dos paleontólogos da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade de Coimbra.

Esta espécie tem uma série de caracteres nunca vistos em nenhuma outra.

Eduardo Puértolas-Pascual, especialista em crocodilos na Universidade Nova de Lisboa, e co-autor do estudo, salientou a importância da anatomia da mandíbula. “A mandíbula tem uma abertura que ajuda a definir o que é um verdadeiro crocodilo, em contraste com répteis parecidos com crocodilos, os crocodilomorfos, que ainda não faziam parte do grupo Crocodylia, e não tinham essa abertura nos ossos da mandíbula”.

Os resultados de um estudo de linhagem colocam este espécime dentro de Crocodylia.

“Este exemplar português é o representante mais antigo de Crocodylia conhecido até agora, ajudando a preencher uma lacuna no registo fóssil”, explicam os investigadores. Além disso, acreditam que a descoberta desta nova espécie lança luz sobre a origem dos crocodilos, que provavelmente teria ocorrido na Europa.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.