Equipa internacional de investigadores dá primeiros passos para “ressuscitar” plantas extintas

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Um estudo sobre plantas extintas, publicado na revista Nature Plants, identificou 161 espécies desaparecidas como candidatas a ser recuperadas e assinala outras 15 que se acreditavam estar extintas mas que afinal não estão.

Cerca de 40% das espécies de plantas estarão em perigo de extinção, segundo estimativas recentes. “A extinção de qualquer espécie representa a perda de características e recursos únicos e valiosos, moldados por milhões de anos de evolução”, recorda, em comunicado, o Real Jardim Botânico de Madrid, que participou no estudo.

Agora, um complexo estudo realizado por um grupo internacional de 32 instituições – coordenado por Thomas Abeli e Giulia Albani Rocchetti, da Universidade Roma Tres – investigou o potencial para “ressuscitar” 161 espécies de plantas actualmente consideradas extintas. “É provável que muitas destas espécies se percam para sempre. Mas para algumas delas pode existir uma possibilidade de recuperação. É a chamada ciência da ‘desextinção’ que tem como objectivo desenvolver o conhecimento e os métodos para devolver a vida às espécies extintas.”

Ilustrações botânicas de espécies de plantas extintas. 
Da esquerda para a direita, Streblorrhiza speciosa Endl. (Sarah A. Drake, 1841, em Edwards’s Botanical Register or Ornamental Flower -Garden and Shrubbery); Tetramolopium tenerrimum (Less.) Nees (A.R. d’Apreval em Drake del Castillo, E., Illustrationes florae insularum maris pacifici (1886-1892)); e Vicia dennesiana H.C. Watson (M. Smith en la Revista Botánica de Curtis en 1887, ser. 3, vol. 43).

Muitas plantas reproduzem-se por sementes que podem permanecer viáveis, com potencial para se converterem em indivíduos adultos, durante décadas ou até séculos.

“Isto traz a possibilidade de recuperar plantas extintas cujas sementes estão conservadas em colecções de História Natural, particularmente em herbários”, comentou Leopoldo Medina, responsável pelo herbário do Real Jardim Botânico de Madrid.

O estudo identificou 556 espécimes de herbário de 161 espécies extintas para as quais existem sementes disponíveis em mais de 60 herbários em todo o mundo.

Para reunir esta lista de espécies candidatas a ser “ressuscitadas”, os investigadores tiveram em conta critérios como a resistência das suas sementes ao armazenamento, a idade dos espécimes e a história evolutiva da espécie.

Entre estas espécies está a Astragalus endopterus, planta endémica dos Açores, cujas sementes se caracterizam pela sua longevidade.

A investigação, publicada a 19 de Dezembro na revista Nature Plants, também destaca os riscos e os benefícios da recente proliferação de bases de dados na era da digitalização. Se, por um lado, estas ferramentas aceleraram o acesso aos dados sobre a biodiversidade, “em alguns casos também podem causar a difusão de informação errónea ao não actualizar o estado de conservação das espécies, as acções de conservação, em particular das espécies em perigo de extinção. Podem ser enganosas”, lembrou Leopoldo Medina.

Num trabalho feito em conjunto com o Botanic Gardens Conservation International (BGCI), a equipa identificou inconsistências no estado de conservação registado nas principais bases de dados internacionais de determinadas espécies de plantas. Assim descobriram que 15 espécies de plantas consideradas extintas na realidade não estavam, já que se mantêm em jardins botânicos ou na própria natureza.

“Os resultados deste estudo têm um alcance importante para a conservação ao dar ferramentas para orientar a primeira possível ‘ressurreição’ de espécies de plantas extintas e para planificar acções de conservação, incluindo reintroduções de espécies altamente ameaçadas que foram erradamente declaradas extintas”, acrescentou Medina.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.