Exemplar vivo de Panaspis namibiana sp. nov. – parátipo. Foto: Paul Freed

Equipa de Luís Ceríaco descreve nova espécie de lagarto da Namíbia

O lagarto Panaspis namibiana, com olhos que fazem lembrar os de uma serpente, acaba de ser descrito como nova espécie pela equipa do investigador português Luís Ceríaco. A Namíbia ganhou uma nova espécie.

 

Durante muito tempo estes pequenos lagartos foram confundidos com outra espécie, a Panaspis maculicollis. Na verdade, apesar de a Namíbia ser um local de grande diversidade de espécies de répteis e anfíbios, ainda se sabe pouco sobre estes animais.

Foi por isso que Luís Ceríaco, investigador do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, começou a tarefa de digitalizar todos os dados sobre a biodiversidade de répteis e anfíbios de Angola e da Namíbia, países vizinhos no Sul do continente africano, existentes em museus de História Natural na Europa, África e Estados Unidos.

No âmbito desse trabalho, a equipa deste investigador começou a olhar para o pequeno lagarto com mais atenção. O fruto do seu trabalho acaba de ser publicado na revista científica Zootaxa, artigo que descreve a Panaspis namibiana como uma nova espécie para a Ciência. Em português terá o nome de lagartixa-olhos-de-serpente-da-Namíbia, por causa da sua pálpebra não amovível, o que lhe dá o aspecto de olho de serpente.

 

Exemplar vivo de Panaspis namibiana sp. nov. – parátipo. Foto: Paul Freed

 

Este é um pequeno réptil, com um comprimento de entre cinco e sete centímetros. “Com a informação que dispomos no momento, acreditamos que apenas exista na Namíbia”, disse hoje à Wilder Luís Ceríaco, curador-chefe do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto e curador-convidado da colecção de répteis e anfíbios do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa.

Segundo os investigadores, esta espécie tem uma vasta distribuição geográfica nas regiões Noroeste e Centro da Namíbia.

Pertence a um género de lagartos muito mais diverso do que se pensava até há pouco tempo.

Para resolver o enigma que deu origem à descrição da nova espécie, os investigadores exploraram minuciosamente mais de 20 exemplares destes lagartos, guardados em museus de todo o mundo.

 

Luís M. P. Ceríaco em 2017 no Museu do Dundo (Angola) com representantes do Governo Provincial e do Museu. à secretária, Aaron Bauer, co-autor do artigo agora publicado na Zootaxa. Foto: Esteves Afonso

 

A descrição desta nova espécie, um trabalho que se estendeu de 2016 a 2018 com base em exemplares guardados nos museus, “reforça a ideia de que a Namíbia e o Sul de Angola são áreas de extremo interesse para a herpetofauna”, explicou Luís Ceríaco à Wilder. “E apesar de ter muitas espécies, ainda terá mais do que aquelas que são conhecidas.”

Além disso, acrescentou, o trabalho demonstra que “alguns grupos de animais são ainda mais diversos do que aquilo que pensávamos, o que só põe a nu a quantidade de trabalho que ainda é preciso fazer para catalogar a biodiversidade”.

O investigador salientou ainda que “a descrição desta nova espécie só foi possível pela existência de exemplares em museus de História Natural, o que atesta a importância que este tipo de colecções, tantas vezes esquecidas, tem para o estudo e conservação da biodiversidade e para novas descobertas científicas”.

Neste momento, a equipa de Luís Ceríaco continua a missão de descrever novas espécies de répteis e anfíbios africanos, com trabalhos a decorrer em Angola, São Tomé, Namíbia e República Democrática do Congo.

Isto porque dar um nome a uma espécie é importante “para que esta possa entrar no ‘discurso’ oficial entre cientistas, agências de conservação, autoridades nacionais e internacionais, entre outras entidades e agentes”, explicou o investigador num comunicado de imprensa. Além disso, “sem nomes não há conservação”, uma vez que todos os documentos e diplomas legais precisam de se referir à espécie de forma clara.

 

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.