Escócia: 2020 bateu recorde com o nascimento de 57 crias de gato-bravo

Com menos de 200 gatos-bravos na natureza, a Escócia está a trabalha para travar a extinção desta espécie. Em 2020 nasceram 57 crias nos centros de reprodução escoceses, um novo recorde.

Estas 57 crias nasceram no âmbito do programa de reprodução para a conservação desta espécie no Reino Unido, anunciou a Royal Zoological Society of Scotland (RZSS).

Crias de gato-bravo no Centro de Camperdown. Foto: RZSS

No total, dez zoos, parques selvagens e centros a trabalhar para o programa registaram 22 ninhadas, “garantindo assim que há o potencial para apoiar os esforços de conservação para esta espécie criticamente ameaçada”, segundo um comunicado da RZSS.

O gato-bravo (Felis silvestris) está à beira da extinção no Reino Unido, por causa da perda de habitat, perseguição e cruzamento com o gato-doméstico. Estima-se existirem menos de 200 animais na natureza, na Escócia, segundo o relatório “Review of the Population and Conservation Status of British Mammals”, feito pela The Mammal Society .

Gato-bravo. Foto: Alena Houšková/WikiCommons

Em Portugal, esta espécie está classificada como Vulnerável, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005). É uma das espécies prioritárias para o novo Livro Vermelho dos Mamíferos, cujos trabalhos estão agora a decorrer para perceber como está esta espécie no nosso país.

São várias as iniciativas de conservação a decorrer para travar o desaparecimento deste felino naquele território. Como o projecto Saving Wildcats, que reúne vários parceiros. O seu objectivo é garantir um futuro para esta espécie ao reproduzir gatos-bravos e libertando-os na natureza.

“Os gatos-bravos são um dos mamíferos mais raros e ameaçados do Reino Unido, o que significa que cada uma destas crias é uma potencial bóia de salvação para a espécie”, disse em comunicado David Barclay, gestor para a conservação ex-situ do Saving Wildcats.

Cada animal conta para conservar a espécie. Foi isso que descobriram a 13 de Janeiro dois amigos que, ao caminharem na natureza perto da Huntly’s Cave, em Moray (Escócia), encontraram um “gatinho” num estado muito debilitado na neve.

“Estava mesmo em muito más condições, estava a congelar, quase não se mexia”, contou Pete Macnab ao jornal Daily Record. Pensaram ser um gato doméstico perdido. Só quando o levaram ao veterinário descobriram que, afinal, era um raríssimo gato-bravo. O animal foi tratado e já está aos cuidados da organização Scottish Wildcat Action.

Um novo centro para o gato-bravo

No âmbito do projecto Saving Wildcats está a ser construído um centro de reprodução em cativeiro no Highland Wildlife Park, perto de Aviemore (no Cairngorms National Park). O centro terá instalações para a reprodução, cuidados veterinários, monitorização remota e treino para a liberdade. O objectivo é libertar os primeiros gatos-bravos na natureza em 2022.

“2020 foi um ano de desafios mas estamos muito entusiasmados por reunir todos os recursos e o conhecimento necessários para salvar os gatos-bravos da Escócia”, acrescentou David Barclay.

Gato-bravo. Foto: Luc Viatour/WikiCommons

O projecto Saving Wildcats é liderado pela RZSS e tem como parceiros o NatureScot, a Forestry and Land Scotland, a The Cairngorms National Park Authority, o Norden’s Ark e a Junta de Andaluzia.

Tem o apoio do Programa LIFE da União Europeia, bem como da Fundação Garfield Weston, do National Trust for Scotland, do The People’s Trust for Endangered Species e do The European Nature Trust.


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.