Espanha: alerta para mortandade de peixes e crustáceos no Mar Menor

O Mar Menor – o maior lago de água salgada da Europa, junto ao Mar Mediterrâneo na região de Múrcia – registou a 15 e 16 de Agosto um evento de mortalidade massiva de peixes e crustáceos. Investigadores apontam como causas as temperaturas elevadas e a falta de oxigénio nas águas e nos sedimentos.

Peritos do Instituto Espanhol de Oceanografia (IEO/CSIC) estão a analisar as evidências científicas disponíveis em relação às causas deste evento. Milhares de animais apareceram mortos nas praias do Mar Menor, entre eles caranguejos, cabozes e peixes-rei.

Crustáceos e peixes mortos nas margens do Mar Menor. Foto: IEO

A mortalidade atingiu animais de uma “ampla variedade de espécies, especialmente de peixes e de crustáceos” que vivem no fundo daquela lagoa de água salgada ou muito perto do fundo. Na sua maioria, são animais pequenos, “com menor capacidade de escape e, por isso, mais vulneráveis a factores de stress como a temperatura, a anoxia ou a toxicidade de algum tipo de elemento contaminante”.

Segundo os peritos do IEO, a elevada temperatura média das águas e eventos extremos de calor – uma tendência crescente observada nas últimas décadas – podem ter estado na origem deste evento.

Estes especialistas recordam que o aquecimento na região poderá “contribuir para a deterioração do Mar Menor e dificultar a sua recuperação”.

Mas as temperaturas terão sido apenas uma das causas desta mortandade de fauna. O IEO lembra que o Mar Menor sofre com a eutrofização, um excesso de nutrientes nas águas que leva à redução do oxigénio disponível e crucial à sobrevivência de animais e plantas.

Esta eutrofização, além de ser por si só um problema, diminui a resiliência deste ecossistema, ou seja, a sua capacidade para resistir a alterações como as que podem ser causadas pelo stress térmico de uma onda de calor.

No entanto, ainda há muito trabalho a fazer para perceber, com rigor, o que terá causado a morte de tantos animais. “O IEO mantém desde há anos uma rede de sensores submergíveis de temperatura tanto no Mediterrâneo como no Mar Menor e neste momento os peritos estão a analisar a série temporal desde a década dos anos 1980 para comprovar se há algum evento extremo e significativo que explique por si só esta mortalidade.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.