Espécie rara de abutre observada em Mogadouro

Um abutre grifo-de-rüppell (Gyps rueppellii), espécie Criticamente Em Perigo no mundo, foi registado num campo de alimentação para aves necrófagas no Nordeste Transmontano, foi agora revelado.

A notícia chegou a 8 de Novembro pelas mãos da Palombar – Associação de Conservação da Natureza e do Património Rural.

O abutre foi registado por câmaras de armadilhagem fotográfica a 19 de Junho deste ano num campo de alimentação para aves necrófagas em Bruçó, no concelho de Mogadouro, gerido pela Alombar, no âmbito do projeto LIFE Rupis

“O avistamento desta espécie em Portugal (…) , apesar de parecer ser cada vez mais frequente, ainda é uma raridade”, segundo um comunicado da Palombar enviado à Wilder na sexta-feira passada.

A associação cita o portal Aves de Portugal, segundo o qual até ao final de 2009 havia 13 observações da espécie homologadas para o nosso país. Depois disso, a última aconteceu no período de 7 a 25 de Novembro de 2015, na Península de Sagres.

A Palombar confirmou que se tratava de um indivíduo da espécie Gyps rueppellii, tendo também consultado outros especialistas em abutres, que deram igualmente um parecer afirmativo, corroborando que, de facto, se trata de um grifo-de-rüppell.

Segundo vários especialistas, “devido às alterações climáticas e à progressiva ‘africanização’ do clima na Península Ibérica, muitas espécies de aves africanas parecem estar a colonizar este território, incluindo alguns abutres”.

O grifo-de-rueppell é uma espécie de abutre africana. Encontra-se principalmente na África central e habita sobretudo na savana aberta e árida, em áreas semi-desérticas, em zonas limites do deserto e em zonas de montanha.

“Apesar de ainda não existirem registos definitivos que comprovem a ocorrência de reprodução dessa espécie na Europa, o grifo-de-rüppell tem sido avistado com cada vez mais frequência na Península Ibérica.”

Esta espécie de abutre é “muito semelhante ao grifo (Gyps fulvus), mas diferencia-se deste por ser um pouco mais pequeno, ter a pele mais escura e a plumagem salpicada de orlas brancas ou beges”. 

É uma espécie muito sociável e normalmente reúne-se em grandes bandos para repousar, nidificar ou se alimentar.  

“A Europa poderá, desta forma, passar a ter uma quinta espécie de abutre ameaçada globalmente no seu território, além do grifo (Gyps fulvus), do abutre-preto (Aegypius monachus), do britango (Neophron percnopterus) e do quebra-ossos (Gypaetus barbatus)”, salienta a Palombar.

Segundo esta associação, os campos de alimentação para aves necrófagas “são fundamentais para assegurar a conservação de espécies de aves com hábitos alimentares necrófagos”.

Isto porque uma das principais ameaças que estas aves enfrentam é a falta de disponibilidade de alimento, a qual foi agravada com a chamada crise das ‘Vacas Loucas’, que levou a que as carcaças de gado (a principal fonte de alimento para os abutres) não pudessem mais ficar no campo. 

Estes campos de alimentação pretendem “aumentar a quantidade de alimentos disponíveis para estas espécies, sobretudo no período reprodutivo, quando há uma maior exigência energética não só por parte das progenitoras, como também das crias após o nascimento”. 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.