Musgo. Foto: Andreas/Pixabay

Espécies pouco abundantes organizam-se em “guetos” para sobreviver

As comunidades de animais e de plantas organizam-se em “guetos” ou bairros étnicos onde as espécies mais raras se agrupam a fim de sobreviver face às espécies mais competitivas, conclui um novo estudo científico.

A equipa internacional de investigadores analisou 326 comunidades ecológicas de todo o mundo, incluindo musgos, herbáceas, árvores, insectos, aranhas e corais.

O resultado deste trabalho foi agora conhecido num artigo publicado na revista Nature Ecology & Evolution.

Em concreto, os investigadores comprovaram que as espécies pouco abundantes se associam espacialmente em 90% das comunidades de animais e de plantas estudadas, segundo um comunicado do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid (MNCN-CSIC), entidade que participou no estudo.

“As comunidades de animais e de plantas organizam-se tal como nós o fazemos nas cidades, em guetos ou em bairros étnicos”, escrevem os investigadores.

“Esta organização poderá estar por detrás da sobrevivência de espécies raras, já que estas poderão evitar a pressão competitiva das espécies mais abundantes, ou porque cooperam entre si, ou porque preferem micro-habitats concretos ou ambas as coisas”, acrescentam.

Os resultados desta investigação sugerem uma explicação geral para a manutenção da biodiversidade em ambientes competitivos, suavizando o princípio da exclusão competitiva, segundo o qual, as espécies com capacidades competitivas mais baixas deveriam ser excluídas pelas competidoras mais eficientes.

Este estudo, acreditam os investigadores, pode ter “profundas implicações para a compreensão da formação das comunidades ecológicas”. Entre essas implicações, os peritos destacam a planificação da conservação ou até mesmo o estudo de doenças humanas relacionadas com o microbioma intestinal, “onde a coexistência de espécies é fundamental”.

“Contudo, ainda se desconhecem quais as interacções e mecanismos específicos que permitem associações de espécies raras, o que também deveria impulsionar uma nova agenda de investigação em vários campos das Ciências da Vida”, admitem os investigadores.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.