Fêmea de abutre-preto. Foto: Vulture Conservation Foundation

Esta abutre-preto viajou do Sul de França ao Norte de Portugal

Bernardus é uma jovem abutre-preto nascida em Maio de 2015 e criada em cativeiro, no Jardim Zoológico de Pairi Daiza, na Bélgica, e que em Setembro foi libertada na região de Gorges du Verdon.

 

Considerado em Portugal como Criticamente em Perigo de extinção, o abutre-preto (Aegypius monachus) é conhecido como a maior ave de rapina da Europa: pode chegar a pesar 12 quilos e atingir uma envergadura de asa de três metros. Em Portugal, depois de 40 anos sem nidificar, voltou a reproduzir-se apenas há poucos anos, no Tejo Internacional e no Douro Internacional.

Quanto a Bernardus, está integrada num projecto de reintrodução da espécie em Gorges du Verdon, no Sul de França. Antes da libertação foi equipada com um transmissor GPS, e foi desta forma que a equipa do projecto foi seguindo o percurso desta jovem abutre.

Os responsáveis da Vulture Conservation Foundation (VCF, Fundação para a Conservação do Abutre), parceiros neste programa de reintrodução da espécie, relatam de forma resumida a viagem de sete meses que Bernardus tem vindo a realizar.

Depois de voar pela região do Sul de França, chegou aos Pirinéus espanhóis em meados de Novembro, seguindo depois pela Costa Mediterrânica até ao Parque Nacional de Doñana, na Andaluzia, onde passou grande parte do Inverno.

Nas primeiras semanas de Abril, Bernardus explorou a zona a norte de Sevilha, até que entre cruzar a fronteira com Portugal entre os dias 19 e 20 de Abril, na zona do concelho de Moura.

Nesta parte da viagem, é possível que a jovem abutre-preto tenha encontrado outras aves da mesma espécie, pois é precisamente na zona do concelho de Moura que que está em curso um projecto de reintrodução do abutre-preto no Baixo Alentejo, coordenado pela Liga para a Protecção da Natureza. Como resultado, na Herdade da Contenda, registou-se a ocupação de quatro ninhos em Março deste ano, três deles artificiais.

 

A rota voada pela abutre-preto, entre Setembro de 2015 e o dia 1 de Maio.
A rota voada pela abutre-preto, entre Setembro de 2015 e o dia 1 de Maio.

 

No entanto, os registos da VCF mostram que passados poucos dias, a jovem abutre já voava pela região de Évora. No espaço de 24 horas, aliás, percorreu uma distância de cerca de 300 quilómetros até à Serra da Malcata, onde já estava no dia 26, terça-feira, a meio da manhã. Por pouco tempo.

Bernardus terá voado em seguida mais umas centenas de quilómetros, sobrevoando o Parque Natural do Douro Internacional – uma das três regiões portuguesas onde o abutre-preto actualmente nidifica, juntamente com o Tejo Internacional e o Baixo Alentejo.

Nesta região, poderá ter encontrado ainda outras espécies de aves de rapina em perigo de extinção, como a águia-perdigueira e o abutre-do-Egipto, que nesta zona estão a ser alvo de um projecto de conservação transfronteiriço, o LIFE Rupis.

A VCF é uma das parceiras deste projecto de quatro anos, coordenado pela SPEA e iniciado em Julho de 2015. A Fundação sublinha que os abutres-pretos “são habituais” nesta zona do Vale do Douro, onde se deu “uma recolonização muito interessante”, numa área que fica a cerca de 100 quilómetros do núcleo de nidificação mais próximo.

Bernardus todavia não se demorou muitas horas nesta região, pois seguiu entretanto para a área espanhola de Zamora, de onde voou para Leste. Neste domingo dia 1 de Maio, pela manhã, o GPS assinalava esta jovem fêmea próxima de San Sebastian, no País Basco.

Em paralelo com o projecto LIFE Rupis, a VCF está actualmente envolvida na reintrodução do abutre-preto em França. Para este último projecto, a organização recorre muitas vazes à transferência de aves provenientes de Espanha, nascidas na natureza mas  recolhidas em centros de recuperação por estarem feridas ou exaustas. Actualmente, são conhecidos 35 casais nidificantes em território francês.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Se desejar acompanhar diariamente o percurso de Bernardus, pode espreitar aqui. Esta jovem abutre-preto tem algumas penas descoloradas na asa esquerda e na cauda, pelo que é fácil de identificar, adianta a VCF.

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.