mainá-do-Bali
Foto: Dick Daniels/Wiki Commons

Esta ave quase extinta nasceu com sucesso no Jardim Zoológico

No Jardim Zoológico nasceu uma cria de mainá-do-Bali (Leucopsar rothschildi), ave que está em franco declínio na natureza e que está a ser ajudada por cerca de 100 instituições na Europa.

 

“Este nascimento tem um valor incalculável para o Jardim Zoológico, uma vez que foi a primeira reprodução de sucesso desta espécie desde o início dos anos 80, altura em que a acolhemos”, explica a curadora de aves, Telma Araújo, citada num comunicado enviado à Wilder.

A reprodução foi preparada cuidadosamente, o que começou pela escolha do casal reprodutor – um macho da Dinamarca e uma fêmea da Alemanha, trazidos para Portugal depois de terem sido “minuciosamente avaliados”.

“Esta avaliação é feita para que seja possível formarem-se potenciais pares da espécie, de modo a reproduzirem-se e a serem reintroduzidos no seu habitat natural, na Indonésia”, e assim reforçar a população nesse local, nota a curadora.

O mainá-do-Bali é natural do Bali, no arquipélago da Indonésia, onde se encontra apenas na Reserva Natural de Barat. Está classificado pela União Internacional para a Conservação da Natureza como Criticamente em Perigo de extinção, afectado pela desflorestação e sobretudo pelas capturas ilegais para ser vendido.

Na Indonésia, aliás, é considerado “um símbolo de elevado estatuto social.” De plumagem quase toda branca, negro nas pontas das asas e na cauda, distingue-se pela crista branca (maior no macho) e pelo tom azul da pele em torno dos olhos.

 

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Mainá-do-Bali. Foto: Jardim Zoológico

 

É uma espécie monogâmica, ou seja, fêmea e macho têm apenas um parceiro. Comem sementes, frutos e insectos que procuram nas árvores e no solo. Depois das crias deixarem o ninho, são alimentadas pelos progenitores ainda durante sete semanas, mas em geral apenas uma sobrevive depois da postura.

 

Quantas aves em estado selvagem?

Estima-se que em estado selvagem não há mais do que 50 aves desta espécie “em franco declínio, no limiar da extinção”. Aliás, nos últimos anos a sobrevivência do mainá-do-Bali na natureza tem estado dependente da sua reprodução sob cuidados humanos, em parques zoológicos ou reservas e santuários, e a reintrodução no habitat natural.

“Quando a sobrevivência de uma espécie depende da reintrodução de animais na natureza, o nascimento de novas crias é o maior contributo possível para a sua conservação”, destaca o zoo lisboeta, sublinhando que o papel dos jardins zoológicos é “fundamental para esse objetivo comum”. Na Europa, cerca de 100 instituições abrigam actualmente manás-do-Bali e trabalham em cooperação para a sua reprodução.

Já na Indonésia, país de origem, uma organização não governamental, a Friends of the National Parks Foundation, está a trabalhar na protecção destas aves. Por exemplo, através da criação de santuários.

“Foram criados programas de reflorestação que ajudam a restaurar o habitat do mainá-do-bali e acções de desenvolvimento comunitário que são vitais para garantir que a população local entenda a importância de proteger esta espécie, bem como outras aves daquela região ameaçadas de extinção.”

Desde há um ano que o Jardim Zoológico participa na campanha de conservação “Quebra o Silêncio – Pelas Aves de Canto”, que inclui o mainá-do-Bali, e que é organizada pela EAZA – Associação Europeia de Zoos e Aquários. Esta iniciativa conjunta alerta o público em geral “para a extinção eminente das aves de canto e procura criar condições para a futura reintrodução no habitat natural”, sublinha o zoo.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Fique a conhecer a campanha internacional “Quebra o Silêncio – Pelas Aves de Canto”, que na versão original em inglês é apelidada de “Silent Forest”.

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A Wilder contactou ainda o Jardim Zoológico para perguntar sobre o futuro dos mainás-do-Bali que estão no zoo lisboeta e sobre a cria que agora nasceu. Conheça as respostas:

O casal de Mainás-do-bali que se reproduziu no Jardim Zoológico vai ser libertado na natureza, na Indonésia, ou vai permanecer no Zoo?

Os membros deste casal são muito novos e encontram-se juntos apenas há cerca de um ano. Provando-se que este casal tem um grande sucesso a nível reprodutivo, com bons resultados continuados, tornar-se-á importantíssimo na missão de reprodução para a conservação da espécie.

No Jardim Zoológico, as interacções entre tratadores e animais, eminentes ao maneio dos mesmos, são limitadas ao mínimo indispensável para que se possa deixar o maior número de opções em aberto na futura gestão sustentável da população mundial da espécie. Neste caso, serão os descendentes deste casal os elementos mais importantes no reforço da população no habitat natural, em diferentes locais onde possam já ser libertados animais.

Qual será o destino da ave que agora nasceu?

A próxima fase será assegurar a boa adaptação da cria à instalação, ou seja, perceber se consegue voar, apanhar insectos e deslocar-se entre vegetação sem dificuldades. Posteriormente, os veterinários avaliam o animal, realizando diversos exames, incluindo a sexagem.

O coordenador do programa de reprodução ex-situ desta espécie necessita de saber o sexo da cria para definir o seu destino, tendo em conta a informação genética que possui da população de Mainás-do-bali, após as reproduções deste ano.

Existem dois cenários mais prováveis: formar um novo casal com outro animal que esteja afastado geneticamente, garantindo assim a maior diversidade genética da população (o que é difícil, principalmente numa população tão pequena por já existirem poucos animais) ou integrar um grupo num zoo que tenha uma instalação com vários indivíduos e que permita a formação de um bando, com maneio específico, podendo o grupo ser enviado para a Indonésia para reintrodução.

Será o coordenador desta espécie a tomar estas decisões, pois apresenta um conhecimento mais aprofundado da mesma, quer ao nível da população existente nos zoos europeus membros da EAZA – Associação Europeia de Zoos e Aquários, quer no habitat natural.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.