Estados Unidos dão estatuto de protecção a leões africanos

A Administração Obama aceitou incluir duas subespécies de leões africanos na lei norte-americana que protege espécies ameaçadas. Espera-se que esta decisão trave a entrada de troféus de caça no país, cinco meses depois da morte do leão Cecil no Zimbabwe.

 

Passam a estar protegidas pela Lei para as Espécies Ameaçadas (Endangered Species Act, ESA) a subespécie Panthera leo leo, que ocorre na Índia e na África Ocidental e Central, e a Panthera leo melanochaita, na África Oriental e do Sul, anunciou ontem o Serviço norte-americano das Pescas e Vida Selvagem. Esta é uma “resposta ao dramático declínio das populações de leões em estado selvagem”, justificou.

Ficam proibidas as importações de Panthera leo leo, excepto nos casos em que se conclua que a importação contribua para melhorar a sobrevivência da espécie. As importações da Panthera leo melanochaita passam a ter regras mais apertadas.

Além disso, é reforçado o controlo à entrega de licenças para caçar animais selvagens. As novas regras querem assegurar que quem as viole não possa voltar a caçar no futuro nem possa importar troféus de caça.

Nos últimos 20 anos, as populações de leões registaram um declínio de 43% por causa da perda de habitat, diminuição de presas e da perseguição pelos seres humanos.

Estima-se que actualmente existam apenas 1.400 leões da subespécie Panthera leo leo na natureza. Destes, 900 estão em 14 populações africanas e 523 na Índia. Quanto ao Panthera leo melanochaita, os números mais recentes dão conta de entre 17.000 e 19.000 na natureza em África.

Em Outubro, um estudo científico alertou que, dentro de 20 anos, metade das populações de leões em África poderão ter desaparecido.

“O leão é uma das espécies mais amadas do planeta e uma parte insubstituível do nosso património comum”, disse Dan Ashe, director daquele serviço norte-americano, em comunicado. “Se queremos garantir que populações saudáveis de leões continuem a existir nas savanas africanas e nas florestas na Índia, cabe-nos a todos nós – e não só às pessoas em África e na Índia – fazer alguma coisa.”

A decisão anunciada ontem foi apoiada por uma petição assinada por grupos conservacionistas e pelos cidadãos em geral no site Change.org, que reuniu cerca de 200.000 assinaturas para pedir a integração dos leões na legislação.

A morte do leão Cecil – baleado por um caçador norte-americano dentro do Parque Nacional de Hwange no Zimbabwe, em Julho – galvanizou a atenção pública e um debate internacional sobre o destino da espécie. Desde então, mais de 40 companhias aéreas decidiram deixar de transportar troféus de caça.

As novas regras entram em vigor a 22 de Janeiro de 2016.

 

[divider type=”thin”]Saiba aqui o que está a acontecer aos leões africanos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.