Foto: Joana Bourgard

Estamos a passar os limites de segurança para a perda da biodiversidade

A perda de biodiversidade terrestre aumentou de tal forma que, em mais de metade do planeta, a sua capacidade para nos sustentar pode já não estar garantida, alerta um estudo internacional publicado a 15 de Julho na revista Science.

 

“Esta é a primeira vez que quantificámos o efeito da perda de habitats na biodiversidade global com este detalhe. Concluímos que na maioria do mundo, a perda de biodiversidade já não está no limite de segurança sugerido pelos ecologistas”, explicou Tim Newbold, da University College London (UCL). Esse limite foi definido a nível internacional em 2015 como o espaço operacional da Humanidade.

“Sabemos que a perda de biodiversidade afecta o funcionamento dos ecossistemas mas como isso acontece não está inteiramente claro. O que sabemos é que em muitas partes do mundo estamos a chegar a uma situação onde poderá ser preciso a intervenção humana para manter os ecossistemas a funcionar.”

A equipa usou dados de centenas de cientistas por todo o globo para analisar mais de dois milhões de registos para quase 40.000 espécies terrestres em 18.659 locais, no âmbito do projecto PREDICTS. Depois, as análises foram aplicadas para estimar de que forma mudou a biodiversidade em cada quilómetro quadrado desde que o Homem começou a alterar o habitat.

O estudo, publicado na revista Science – coordenado por investigadores da UCL, do Museu de História Natural de Londres e da UNEP – WCMC (World Conservation Monitoring Centre) – concluiu que os níveis de perda de biodiversidade estão tão elevados que se nada for feito poderão inviabilizar um desenvolvimento sustentável a longo prazo.

Os prados, as savanas e os matagais são os ecossistemas mais afectados pela perda de biodiversidade, seguidos de perto por muitas das florestas e bosques do planeta. Os investigadores dizem que nestas áreas, a capacidade da biodiversidade para sustentar funções-chave do ecossistema – como o crescimento de organismos e o ciclo de nutrientes – está a tornar-se cada vez mais incerta.

Para 58,1% da superfície terrestre do planeta – onde vive 71,4% da população mundial – a perda de biodiversidade é de tal forma que permite questionar a capacidade dos ecossistemas para suportar as sociedades humanas.

Esta perda deve-se, essencialmente, a alterações no uso do solo. “É preocupante que o uso do solo já tenha empurrado a biodiversidade para níveis abaixo do limite de segurança proposto”, disse Andy Purvis do Museu de História Natural de Londres, que também trabalhou no estudo.

“Os decisores políticos preocupam-se com recessões económicas, mas a recessão ecológica poderá ter consequências ainda piores. E os danos que temos tido na biodiversidade indicam que isso está em risco de acontecer. Até que consigamos trazer a biodiversidade de volta para cima, estamos a jogar a uma roleta russa ecológica.”

Para Newbold, o caminho passa pela preservação das áreas de vegetação natural que ainda restam e pela recuperação dos solos usados pelo Homem. A equipa espera que os resultados deste estudo, feito por mais de 20 investigadores de vários países, sejam tidos em conta nas políticas de conservação, a nível internacional e nacional.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.