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Estas árvores quase extintas estão a ser preparadas para a chegada do fogo

É nas serras da Estrela e do Gerês que sobrevivem os últimos teixos de Portugal continental, as mais antigas árvores nativas da Europa. Esta equipa está a plantar milhares de novas árvores e a preparar estes bosques para a chegada do fogo.

 

Os incêndios florestais são uma das maiores ameaças ao teixo (Taxus baccata), árvore que pode viver mais de 2.000 anos e que já foi abundante em Portugal. Hoje sobrevive na serra do Gerês e na serra da Estrela. Na Madeira e Açores há pouquíssimos exemplares.

 

Teixo na serra do Gerês. Foto:
Teixo na serra do Gerês. Foto: Estevão-Portela

 

“Em 2005, um incêndio destruiu 79% do maior núcleo de teixos na serra da Estrela”, conta à Wilder Isabel Garcia-Cabral, a coordenadora do projecto LIFE Taxus – Restaurar bosquetes de teixo (Julho de 2013 a Dezembro de 2016), da responsabilidade da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza e co-financiado pelo Programa LIFE Natureza da Comissão Europeia.

Por isso, a prevenção dos incêndios está no coração desta iniciativa, a decorrer em 50 hectares no Parque Nacional da Peneda-Gerês (na Serra do Gerês) e em 15 hectares no Parque Natural da Serra da Estrela (no Vale do rio Zêzere, junto a Manteigas).

 

Teixo junto a Manteigas. Foto: Isabel Garcia-Cabral
Teixo junto a Manteigas. Foto: Isabel Garcia-Cabral

 

No terreno está a equipa do projecto, que são duas pessoas, em estreita colaboração com os sapadores florestais e Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

A maior parte dos teixos que ocorrem espontaneamente em Portugal estão no Gerês. “Estas árvores crescem junto a linhas de água, em vales encaixados. Precisam de sombra e de humidade no solo”, explica Isabel Garcia-Cabral. Aqui na serra do Gerês, o projecto está a manter e a melhorar o habitat dos teixos em 50 hectares, terrenos públicos nas mãos do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). É uma gestão que quer tornar esses bosques mais resilientes aos fogos. “Temos feito acções de prevenção de incêndios, como a limpeza de material combustível e a abertura de faixas de combate a incêndios”, conta a responsável.

 

Trabalhos de limpeza. Foto: LIFE Taxus
Trabalhos de limpeza. Foto: Nuno Forner

 

Na Serra da Estrela há menos teixos. “São árvores isoladas, quase extintas”, diz Isabel Garcia-Cabral. E ocorrem numa zona fortemente ameaçada pelos incêndios. Aqui faz-se uma gestão selectiva dos matos, para reduzir a carga combustível, e plantou-se uma orla ao bosquete de teixos, para o defender do fogo.

“Desde que haja limpeza de matéria combustível em excesso e se faça uma manutenção regular da floresta, com acessos fáceis, o fogo não se propaga tanto e é mais fácil de combater”, acrescenta a coordenadora do LIFE Taxus.

Nesta serra a estratégia vai um pouco mais longe do que no Gerês. “Escolhemos 15 hectares para gerir, para recuperar os teixos que existem, mas não só. Queremos também aumentar a área de ocupação dos bosquetes de teixos”, adianta. Até agora já foram plantadas cerca de 15.000 árvores nesses 15 hectares, terrenos baldios nas mãos dos sapadores florestais.

“Destas cerca de 15.000 árvores, 40% são teixos e os outros 60% são espécies acompanhantes como o azevinho, o carvalho-negral, o carvalho-alvarinho e a tramazeira.” Segundo Isabel, estas espécies acompanhantes apoiam os teixos, principalmente quando são jovens e muito sensíveis. “Essas espécies compõem os bosquetes de teixo e criam as condições de humidade e de sombra que os teixos precisam para crescer.”

“Todas as árvores plantadas são de sementes que foram colhidas na Serra da Estrela e germinadas depois no viveiro do ICNF da Malcata, no Sabugal. Queremos, pelo menos, ajudar a que o teixo não se extinga, a aumentar o número de plantas na Serra da Estrela e manter as do Gerês.”

Em finais de Junho deste ano, a equipa técnica fez uma monitorização às árvores plantadas. “A percentagem de perdas de teixo é muito baixa, menos de 10%”, adiantou Isabel.

Dar uma ajuda a esta árvore torna-se essencial, uma vez que o teixo tem um crescimento muito lento. “Um teixo demora cerca de 50 anos até chegar a ser uma árvore adulta”, diz Isabel, que sabe de um teixo na Serra da Estrela “que tem perto de 70 anos”. Por isso, “quando há poucos exemplares, a regeneração natural é muito baixa”. E se a isto juntarmos os incêndios, o pastoreio, o mau uso da floresta, e a ameaça das alterações climáticas, o cenário não é muito optimista.

Os incêndios dos últimos dias não atingiram a área do projecto na Serra da Estrela, disse Isabel. Ainda não há informações quanto ao Gerês.

 

[divider type=”thick”]Série Wilder Cuidadores de Florestas

Nesta época crítica para as florestas, marcada por incêndios, não vamos falar de área ardida nem tentar explicar as causas desta calamidade. Queremos antes mostrar os portugueses que estão a cuidar das florestas ao longo de todo o ano. Nesta série falámos com os responsáveis por alguns dos melhores projectos de prevenção de fogos e de enriquecimento de florestas e ouvimos as histórias de cidadãos que arregaçam as mangas pelas árvores. Estes são os Cuidadores de Florestas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.