Chapim-real. Foto: Tbird ulm / Wiki Commons

Chapins-reais escolhem os vizinhos pela personalidade

“Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és.” Aqui está um provérbio que se aplica também ao mundo das aves, pelo menos dos chapins-reais, concluiu uma equipa de cientistas da Universidade de Oxford.

 

Os investigadores decidiram analisar até que ponto a personalidade dos chapins-reais (Parus major) influencia a sua vida social – nomeadamente, quem estas aves escolhem como vizinhos de ninho.

Para isso, durante seis épocas consecutivas de nidificação, estudaram as relações sociais numa população desta espécie nos bosques de Wytham Woods – um espaço verde semi-natural na zona oeste de Oxford, pertencente à Universidade.

“Descobrimos que os machos, mas não as fêmeas, eram picuinhas sobre as personalidades, com os machos a optarem por vizinhos com atitudes semelhantes. Os nossos resultados mostram que as interacções sociais podem ter um papel decisivo nas decisões dos animais”, explica uma das autoras do estudo, Katerina Johnson, em comunicado.

Mas como se avalia a personalidade de uma ave? Os chapins-reais foram colocados em ambientes desconhecidos, onde os cientistas observaram a sua reacção: os mais corajosos estavam ansiosos por explorar o novo espaço; os mais tímidos mostraram mais medo e cuidado.

 

Foto: Sylvain Haye/Wiki Commons

 

O estudo, publicado na revista científica Animal Behaviour, concluiu ainda que a personalidade dos vizinhos tem mais importância do que as condições do local escolhido para o ninho.

“É tal e qual como os estudantes, quando escolhem um companheiro de quarto”, comenta Katerina Johnson. “As aves parecem prestar mais atenção ao indivíduo com quem partilham um espaço do que à sua simples localização.”

Estas qualidades, acreditam os investigadores, podem ser especialmente importantes durante a época de nidificação. Numa altura em que é maior a agressividade entre os machos, que disputam a atenção das fêmeas e defendem os seus territórios, as aves tímidas terão tendência a evitar vizinhos com personalidades mais agressivas.

“Em vez de se considerar que um determinado tipo de personalidade é “o melhor” em termos de selecção natural, [este estudo] mostra que diferentes estratégias de comportamento podem ser igualmente boas, dependendo de quem escolhemos para ser nosso amigo e vizinho”, sublinha a investigadora.

No caso dos chapins mais agressivos, exemplifica, embora possam ocorrer mais conflitos entre vizinhos, o grupo protege-se melhor de possíveis predadores.

Esta tendência é aliás comum aos humanos, que são igualmente conhecidos “por formarem redes de relações sociais baseadas em atributos partilhados, incluindo a personalidade”.

Quanto às fêmeas, o estudo concluiu que escolhem o local do ninho sem ligar aos vizinhos, com base apenas nas qualidades do macho.

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.