Arara-Azul-De-Spix. Foto: Al Wabra Wildlife Preservation

Estas serão as primeiras espécies de aves a extinguir-se nesta década

A extinção de oito espécies de aves, incluindo duas araras, está prestes a ser confirmada, depois de uma nova avaliação feita pela Birdlife International, publicada esta semana.

 

A arara-azul-de-spix (Cyanopsitta spixii), uma das estrelas do filme de animação Rio, é uma das oito espécies de aves que poderão ser adicionadas à lista cada vez maior de extinções confirmadas ou extremamente prováveis, segundo uma nova análise feita pela Birdlife International.

Este novo estudo, publicado agora na revista Biological Conservation, demorou oito anos a ser feito e usou uma nova abordagem estatística para analisar 61 espécies de aves com extinção confirmada ou potencialmente extintas.

A equipa de investigadores quantificou três factores de uma só vez: intensidade das ameaças, timing e rigor dos registos e quantidade de esforços para procurar as espécies.

Os investigadores recomendam que oito espécies sejam reclassificadas na Lista Vermelha da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza).

Três delas podem agora ser consideradas Extintas: o trepador-do-nordeste (Cichlocolaptes mazarbarnetti), o limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi) e o Poo-uli (Melamprosops phaeosoma). Este último, uma ave do Havai, não é vista na natureza desde 2004 (o mesmo ano em que o último indivíduo em cativeiro morreu).

As outras cinco espécies deveriam ser reclassificadas como Criticamente Em Perigo (Possivelmente Extintas), uma categoria que indica que a espécie tem uma probabilidade extremamente elevada de se extinguir mas que são necessários mais esforços para a procurar antes de a considerar verdadeiramente Extinta.

Estas espécies são o papagaio-diadema (Charmosyna diadema) – visto pela última vez em 1987 -, o abibe-preto (Vanellus macropterus) – visto pela última vez em 1994 -, a coruja carubé-de-pernambuco (Glaucidium mooreorum) – vista pela última vez em 2001 –, a arara-azul-pequena (Anodorhynchus glaucus) – vista pela última vez em 1998 e a arara-azul-de-spix (Cyanopsitta spixii).

Cinco das oito extinções confirmadas ou suspeitas aconteceram na América do Sul, quatro delas no Brasil. Isto “reflecte os efeitos devastadores do elevado nível de desflorestação nesta parte do mundo”.

Na verdade, o novo estudo revela uma tendência preocupante: pela primeira vez, as extinções no continente ultrapassam as extinções nas ilhas.

“Noventa por cento das extinções de aves nos últimos séculos têm acontecido em espécies que vivem em ilhas”, disse em comunicado Stuart Butchart, cientista da Birdlife e o principal autor do estudo. “Contudo, os nossos resultados confirmam que há uma vaga crescente de extinções a varrer os continentes, gerada pela perda e degradação de habitat, por causa da agricultura e abate de florestas.”

No total, desde 1500 ter-se-ão extinguido 187 espécies de aves, das quais 90% são espécies insulares. As principais causas foram a pressão de espécies invasoras (46%) e a caça/captura em armadilhas (26%).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.