Estas três espécies vão ser marcadas com GPS pela SEO/Birdlife em 2023

Cortiçol-de-barriga-branca. Foto: Francesco Veronesi/WikiCommons

Este ano a SEO/BirdLife vai marcar com GPS cortiçóis-de-barriga-branca (Pterocles alchata), corujas-do-nabal (Asio flammeus) e ógeas (Falco subbuteo) para conhecer as suas rotas migratórias, revelou hoje a associação espanhola.

A Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife) tem como prioridade para 2023 marcar com dispositivos de seguimento (GPS) vários exemplares de cortiçóis-de-barriga-branca, espécie muito ligada aos meios agrícolas, no âmbito do  Programa Migra. O objectivo é conhecer os seus movimentos e problemas nas zonas de reprodução e de invernada e estudar que uso fazem as aves do terreno.

Estas informação vai ajudar a fazer uma boa planificação das instalações fotovoltaicas e saber de que forma estas centrais vão afectar a biologia da espécie.

“Os seus movimentos (dos cortiçóis-de-barriga-branca) são totalmente desconhecidos. Apesar de sabermos que não se deslocam para o continente africano, desconhecemos como se movem entre comunidades autónomas e que uso fazem do território durante a época de reprodução, invernada e quais as deslocações fora desses períodos”, admite Juan Carlos del Moral, coordenador de Ciência Cidadã da SEO/Birdlife.

A marcação das aves será feita em colaboração com o CSIC-IREC que já fez marcações desta espécie em anos anteriores e está disponível para unir essa informação à que for gerada no âmbito do programa Migra.

Nesta temporada serão marcadas 13 aves nas comunidades de Castela e Leão, Castela-La Mancha e Madrid.

Em Espanha existirão apenas 7.656 cortiçóis-de-barriga-branca, segundo dados de 2019.

Outra espécie a marcar com GPS será a coruja-do-nabal, ainda nunca tratada no âmbito do programa Migra. Em 2023 pretende-se marcar entre 10 e 20 exemplares em Castela e Leão e na Andaluzia, também em colaboração com o CSIC-IREC.

Por fim, o falcão ógea, migrador transaariano cujas áreas de invernada da população espanhola ainda se desconhecem. As poucas aves marcadas com emissores na Europa Central permitiram estabelecer alguns áreas de invernada das ógeas europeias em Angola, na Zâmbia e no Zimbabué.

Esta ave tem sido considerada como totalmente migradora em Espanha. Mas são cada vez mais frequentes as observações de indivíduos em Dezembro e Janeiro, especialmente nas zonas costeiras da Galiza, Comunidade Valenciana e País Basco, o que indica que alguns indivíduos poderão invernar na Península Ibérica.

Ao longo deste ano serão marcados com GPS entre três e cinco aves em Castela e Leão e Catalunha para conhecer todos estes movimentos migratórios.

“Os tamanhos e as tendências populacionais da ógea não são bem conhecidos mas em Espanha estimou-se a população reprodutora em 2010 em cerca de 4.400 casais. No programa Migra não temos informação sobre esta espécie”, admitiu Del Moral.

O programa Migra foi criado em 2011 pela SEO/Birdlife com a ajuda da Fundación Iberdrola España para estudar a migração e a ecologia espacial das aves através da marcação com dispositivos de seguimento remoto. No total já foram marcadas 1.335 aves de 36 espécies diferentes, o que permitiu criar uma base de dados com milhões de localizações. Estas informações são cruciais para a conservação destas aves no futuro.

As aves estão a alterar as suas migrações por causa das alterações climáticas, da alteração ou desaparecimento dos habitats e de impactos variados que o ser humano exerce sobre a natureza.

Nas últimas décadas têm sido registadas alterações nas zonas de invernada, uma redução das rotas migratórias, a sedentarização de algumas espécies e variações na fenologia migratória.

“Num momento de crise global como este, as aves permitem conhecer o estado de saúde do planeta. Conhecer as suas rotas migratórias e as suas zonas de invernada dá uma informação muito valiosa sobre o que está a acontecer”, lembra a SEO/Birdlife.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.