Este Inverno há mais ursos-pardos sem hibernar em Espanha

Este ano, o número de ursos-pardos (Ursus arctos) nos Pirinéus e na Cantábria que não está a hibernar é mais elevado do que o habitual, revelam investigadores espanhóis.

 

Não é raro ver ursos-pardos a passear na neve, em pleno Inverno, época do ano em que deveriam estar a hibernar. Isto acontece especialmente em Invernos mais amenos, em que o alimento é mais abundante. “Para algumas ursas com crias, permanecer activas durante Invernos mais suaves com alimento abundante pode ser mais rentável energicamente do que hibernar”, explica a Fundación Oso Pardo.

No entanto, este ano, o movimento dos ursos nos Pirinéus e na Cordilheira Cantábrica – onde vivem as duas populações espanholas, com 27 e 230 animais, respectivamente – é muito mais intenso do que o habitual. “É uma situação estranha porque, normalmente, no Inverno o número de ursos a circular diminui e este ano parece que há muitos”, explicou Carlos Nores, zoólogo da Universidade de Oviedo, ao jornal espanhol El País.

Este ano, cujo mês de Janeiro registou temperaturas mais elevadas do que é costume, foi a primeira vez que este comportamento foi observado na população de ursos nos Pirinéus, disse Guillermo Palomero, da Fundación Oso Pardo, ao mesmo jornal. “No entanto, na Cordilheira Cantábrica já tínhamos ideia de que havia animais que não hibernam, ainda que não saibamos quantos”, acrescentou.

Segundo Carlos Nores, na semana passada foram observadas em movimento ursas com as suas crias e também um macho. Este investigador fez notar que este tem sido “um ano extraordinário em bolotas”, alimento muito apreciado pelos ursos. Ainda assim, muitos outros ursos continuam a hibernar.

O urso-pardo mede entre metro e meio e dois metros. Os machos podem pesar entre 80 e 240 quilos e as fêmeas entre 65 e 170 quilos. É entre Novembro e Dezembro que os ursos começam a hibernar, período que termina entre Fevereiro e Abril.

Durante a hibernação, o ritmo cardíaco dos ursos desce de 40-50 para 10 pulsações por minuto. O ritmo respiratório baixa para metade e a temperatura reduz-se em 4 ou 5 graus. A energia que gasta é aquela que conseguiu acumular em reservas de gordura durante o Outono.

De acordo com a Fundación Oso Pardo, na Cordilheira Cantábrica, a maioria dos ursos hiberna em cavidades e apenas 20% escavam buracos no solo. Os ursos escolhem lugares com vegetação quase impenetrável e de muito difícil acesso.

A população mundial de urso-pardo está estimada em cerca de 200.000 animais. A Rússia tem as maiores populações (estimadas em 120.000 ursos), seguida dos Estados Unidos (32.200, dos quais 31.000 no Alasca) e Canadá (25.000). Há ainda ursos na China e no Japão.

Na Europa, excluindo a Rússia, calcula-se que existam cerca de 14.000 ursos. No Sul da Europa, esta é uma espécie em perigo de extinção, com populações pequenas na Grécia, Cordilheira Cantábrica, Abruzzo, Trentino e Pirinéus.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.