Este viveiro serve de berçário a mais de 150 espécies de árvores e plantas nativas de Portugal

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O viveiro da MARCA – Adl, criado em 2015 em Montemor-o-Novo, está a aumentar a resiliência do Sul do país contra as alterações climáticas e a ajudar projectos de restauro de habitats prioritários e de conservação da natureza.

Alfazemas, rosmaninhos, estevas, giestas, madressilvas, alcachofras e poejos convivem com medronheiros, alfarrobeiras, pilriteiros, freixos, carvalhos-de-Monchique, azinheiras, sobreiros, ulmeiros e muitas outras árvores e arbustos no viveiro da MARCA – Associação de Desenvolvimento Local, aberto desde 2015.

Foto: Marília Moura

Ao todo são mais de 150 espécies nativas de Portugal, semeadas e cuidadas neste berçário com cerca de meio hectare situado em Santa Margarida, Montemor-o-Novo.

Estas plantas têm um destino de importância crucial. São “utilizadas em trabalhos de reflorestação, conservação da natureza e jardins adaptados às alterações climáticas”, explica a MARCA-ADL. São usadas na regeneração de habitats prioritários e ecossistemas florestais de importância internacional, como os montados, os matos mediterrânicos, os carvalhais e os bosques de Quercus spp., assim como, as galerias ripícolas, nomeadamente na conservação de margens de cursos de água e zonas húmidas.

“As nossas plantas foram utilizadas em várias ações de conservação da natureza do projeto LIFE LINES, nos concelhos de Montemor-o-Novo, Évora e Arraiolos. Foram ainda utilizadas na reflorestação da encosta nordeste do castelo de Montemor-o-Novo e na localidade das Silveiras”, especificou Marta Mattioli, presidente da direção desta associação, à Wilder.

Foto: Marília Moura

Na verdade, a conservação da natureza faz parte do ADN deste projecto. O viveiro “foi desenhado e construído de raiz em 2015, no contexto do projeto europeu LIFE LINES“, explica esta organização. “O viveiro foi constituído com a finalidade de dar resposta a um projeto de conservação da natureza, do qual a Marca-ADL é parceira, o projeto LIFE LINE, cuja finalidade é fomentar a infraestrutura-verde como medida de compensação aos impactos negativos que as infraestruturas cinzentas têm na biodiversidade.”

Além do LIFE LINES, estas espécies são usadas num programa de compensação de carbono ao qual a MARCA-Adl pertence (iGreen).

Mas o viveiro também está aberto ao publico. “As nossas plantas podem ser também utilizadas em jardins sustentáveis e no fomento da infraestrutura verde urbana”, explicou Marta Mattioli à Wilder.

Foto: Marília Moura

“Embelezam a paisagem, fornecem alimento para a avifauna e vida selvagem em redor e criam, também, barreiras acústicas naturais que minimizam os níveis de ruído em locais perto de estradas ou arruamentos com elevado tráfego rodoviário, bem como melhoram a qualidade do ar por reterem poeiras e poluentes.”

Neste berçário de plantas certificado faz-se a propagação vegetativa de herbáceas, árvores e arbustos da flora autóctone, por métodos de estacaria e germinação por semente, com variabilidade genética. 

Segundo explicou à Wilder, a maior parte das sementes neste viveiro “são recolhidas diretamente na natureza, com os devidos cuidados, num raio de 30 km em redor ao viveiro”. Um dos principais objectivos deste projecto é “investigar métodos de propagação de espécies emblemáticas e contribuir para a manutenção da biodiversidade local”.

Para além da equipa de direção e gestão da Marca-ADL, o viveiro é mantido por uma responsável técnica que é apoiada por voluntários provenientes de diversos projetos da Marca-ADL a maioria deles associados ao Corpo Europeu de Solidariedade e ao Erasmus+.

Todas as plantas neste viveiro são nativas e a maioria é típica do Alentejo. Esta é uma estratégia que faz cada vez mais sentido, especialmente num cenário de crise climática e de aquecimento global, onde se prevêem mais ondas de calor, episódios de seca e incêndios.

Foto: Marília Moura

“As espécies nativas estão mais adaptadas às condições climáticas (como o período de seca durante o verão) e ambientais de cada local (por exemplo pragas)”, explicam os responsáveis da MARCA-Adl à Wilder. “No nosso viveiro cerca de 75% das plantas produzidas provêm de áreas que se situam num raio de 30 km em redor do próprio viveiro. Podem ser utilizadas com sucesso em áreas naturais de características semelhantes ou em áreas semi-naturais e artificiais com baixa manutenção, nomeadamente ao nível da rega.”

A  utilização de espécies nativas, em ações de reflorestação, contribui para uma maior adaptação do território português às alterações climáticas, ou seja estão mais familiarizadas com as condições edafoclimáticas de uma dada região (de que são exemplo as características de solo, o clima, a temperatura, o vento, a humidade, o relevo ou a precipitação fluvial). 

“As plantas nativas, ao estarem adaptadas ao clima mediterrâneo, requerem menos água, contribuem para a conservação do solo e são mais resistentes a pragas ou doenças florestais.”

A associação sublinha que “existe ainda variabilidade genética dentro da mesma espécie ao longo de território nacional. Por exemplo, os sobreiros de áreas junto ao litoral português têm uma variabilidade genética diferente de sobreiros que se localizem numa área do interior do território, já que a humidade relativa junto ao litoral é superior à humidade relativa do interior”.

De momento, os principais trabalhos no viveiro são a monda de ervas daninhas dos vários vasos e tabuleiros, a colheita de sementes e repicagens e transplantes.

Quem quiser, pode ajudar. “Basta estar atento às nossas redes sociais onde divulgamos os vários eventos e projectos de voluntariado. Para os jovens até aos 30 anos temos vários projectos de longa duração.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.