Foto: Jaclyn Aliperti/UC Davis

Estudo: A personalidade importa, também para os esquilos

Cientistas documentaram traços de personalidade num grupo de esquilos e analisaram as consequências. Afinal, o que dá mais vantagens?

Ter uma personalidade, ou seja, um comportamento consistente ao longo do tempo, não é algo exclusivo dos humanos. Uma equipa de cientistas da Universidade da Califórnia, UC Davis, seguiu ao longo do tempo um grupo de esquilos-terrestres-de-manto-dourado (Callospermophilus lateralis), uma espécie comum no Oeste dos Estados Unidos, e comprovou diferenças em quatro traços de personalidade: ousadia, agressividade, nível de actividade e sociabilidade.

As conclusões, publicadas na revista científica Animal Behaviour, indicam que as diferenças entre os esquilos podem influenciar como usam o espaço à sua volta, o que tem consequências no que respeita à conservação da espécie.

Foto: Jaclyn Aliperti/UC Davis

Esquilos mais agressivos e ousados, por exemplo, podem encontrar mais comida ou defender um território maior, mas estão também mais vulneráveis a predadores ou a acidentes, explica uma nota publicada pela universidade.

“Isto soma-se ao pequeno mas crescente número de estudos que mostram que os indivíduos têm importância”, considera a autora principal do estudo, Jaclyn Aliperti. “Dar importância à personalidade na gestão de vida selvagem pode ser especialmente importante quando estamos a predizer as respostas dos animais a novas condições, tal como mudanças ou a destruição de habitat devido a acções humanas.”

Foto: Jaclyn Aliperti/UC Davis

Há mais de 30 anos que investigadores do Laboratório Biológico das Montanhas Rochosas, no Colorado, estudam os esquilos-terrestres-de-manto-dourado. Neste novo estudo, essa longa análise seguiu de base a várias experiências realizadas ao longo de três Verões, que permitiram identificar a personalidade dos esquilos.

Numa das experiências, Jaclyn Aliperti colocou os animais frente a um espelho, no qual estes não se reconhecem a si próprios, e filmou a sua reacção. Noutras, foram colocados em caixas fechadas com grelhas e buracos ou a cientista aproximou-se lentamente, quando estavam na natureza, para ver quanto tempo passava até fugirem.

Foto: Jaclyn Aliperti/UC Davis

Conclusão? Os resultados indicam que “os esquilos mais ousados têm territórios maiores nos quais concentram a sua actividade.” No mesmo sentido, “esquilos mais arrojados e activos movem-se mais depressa”, enquanto que aqueles que são também mais agressivos “têm mais acesso a ‘poleiros’, como rochas.” O acesso a locais como esses – que foi também ligado à sociabilidade – é importante, porque dá vantagens a esses esquilos: nesses locais vêem mais rapidamente os predadores e assim conseguem fugir a tempo.

Outra vantagem parece estar relacionada com os esquilos mais sociais, que parecem ter vantagens no que respeita à capacidade de sobrevivência. Estas diferenças de personalidade podem por sua vez reflectir-se no futuro de uma população ou comunidade, consideram também os cientistas.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.