Floresta no Gana. Foto: Joachim Huber/Wiki Commons

Estudo avaliou como é que comermos chocolate tem um sabor amargo para as florestas da África Ocidental

Investigadores desenvolveram um novo mapa em alta resolução das áreas de produção de cacau no Gana e na Costa do Marfim, dois dos maiores produtores mundiais, para estimar o número de hectares afectados.

Um grupo de cientistas concluiu que existem mais de sete milhões de hetares de plantações de cacau no Gana e na Costa do Marfim, um número muito superior aos dados oficiais – 40% superior no caso do Gana. Desta área devotada à produção da matéria-prima do chocolate, 1,5 milhões de hectares localizam-se em áreas protegidas, onde as regras proíbem que haja desflorestação.

Os resultados foram publicados esta semana pela revista científica Nature e são também relatados num artigo publicado pela The Conversation por uma das investigadoras envolvidas no estudo, Wilma Hart, ligada à Universidade de Queensland, na Austrália.

Ao cruzarem os dados obtidos com o que já se sabia sobre a destruição de florestas na África Ocidental, a equipa estimou também que mais de 37% do desaparecimento das florestas em áreas protegidas, na Costa do Marfim, está ligado às quintas de cacau. No que respeita ao Gana, esse peso é de 13%.

Para chegarem a estes resultados, os investigadores recorreram a uma forma de inteligência artificial (IA), conhecida como “redes neurais”, para produzirem um mapa em alta resolução. Através desta ferramenta, os computadores reconhecem e prevêem padrões em vastas quantidades de informação disponível. Neste caso, identificaram as plantações de cacau em imagens de satélite dos dois países. Para testarem se os resultados eram confiáveis, a equipa pediu a confirmação de 2000 localizações seleccionadas ao acaso, das que tinham sido detectadas por IA, que foi feita através de equipas no terreno.

No entanto, resolver esta situação é “um problema complexo, sem solução fácil”, admite Wilma Hart. Muitos produtores de cacau são pequenos agricultores, que vivem abaixo do limiar de pobreza, e que dependem dessa actividade para sobreviver, tal como as suas famílias.

A investigadora defende que é necessário reforçar ainda mais os apoios para que a produção de cacau se faça de uma forma sustentável, canalizando a maior parte das receitas das vendas para os agricultores. Diz ainda que é necessária uma aplicação mais forte da lei. E finalmente, que todos deveríamos pagar mais pelo chocolate que comemos.

Além desta investigadora da Universidade de Queensland, outros nove cientistas participaram neste estudo, ligados ao EcoVision Lab e à Universidade de Zurique, na Suíça, à Universidade de Lovaina, na Bélgica, e ainda a Cambridge e Oxford, no Reino Unido.

Inês Sequeira

A minha descoberta do mundo começou nas páginas dos livros. Desde que aprendi a ler, devorava tudo o que eram livros e enciclopédias em casa. Mais tarde, nos jornais, as minhas notícias preferidas eram as que explicavam e enquadravam acontecimentos que de outra forma seriam compreendidos apenas pelos especialistas. E foi com essa ânsia de aprender e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista. Comecei em 1998 na área de Economia do PÚBLICO, onde estive 14 anos a escrever sobre transportes, aviação, energia, entre outros temas. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da agência Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água” e trabalho para um mundo melhor. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.