Águia-real a voar
Águia-rea (Aquila chrysaetos). Foto: Martin Mecnarowski/Wikimedia Commons

Estudo conclui que parques eólicos são ameaça para grifos e águias-reais

Um novo estudo científico sobre os riscos de colisão de diferentes espécies de aves e morcegos com turbinas de parques eólicos revela que duas das aves de rapina que ocorrem em Portugal, as águias-reais e os grifos, estão entre as mais ameaçadas por esta forma de energia renovável.

 

O estudo, coordenado pelo British Trust for Ornithology (BTO), estima as possibilidades de colisão de várias aves e morcegos, tendo em conta factores como o comportamento migratório e a ecologia de cada espécie, bem como a altura e a capacidade das turbinas eólicas.

Os cientistas concluíram que as aves de rapina são as mais vulneráveis aos parques eólicos, com destaque para três espécies: águia-real (Aquila chrysaetos), grifo (Gyps fulvus) e águia-rabalva (Haliaeetus albicilla). Em Portugal, o Livro Vermelho dos Vertebrados aponta a águia-real como uma espécie Em Perigo, enquanto o grifo tem o estatuto de quase ameaçado. Já a águia-rabalva é característica do Norte da Europa e também da Ásia.

 

Águia-real a voar
Águia-real (Aquila chrysaetos). Foto: Martin Mecnarowski/Wikimedia Commons

 

Isto sucede, em parte, por essas três espécies “muitas vezes utilizarem habitats artificiais como terras agrícolas para a caça, onde os parques eólicos estão mais vezes localizados”, aponta a BirdLife International, que cita o mesmo estudo.

Por outro lado, as aves de rapina têm a visão adaptada à caça. Ou seja, “há um grande espaço em que não vêm nada directamente em frente delas, o que significa que uma turbina eólica as pode apanhar completamente de surpresa”, acrescentou a associação internacional, referindo uma outra investigação recente, publicada na Nature.

A ameaça dos parques eólicos para estas espécies é especialmente preocupante devido a uma taxa de reprodução bastante lenta, pelo que a perda de aves adultas tem um impacto grande nas populações, e ao estatuto ameaçado de muitas espécies africanas e euro-asiáticas.

 

Grifo de pé numa rocha, de asas abertas
Grifo (Gyps fulvus). Foto: Emiliya_Toncheva/Wikimedia Commons

 

O estudo coordenado pelo BTO concluiu ainda que as aves migradoras são também das mais afectadas pelos parques eólicos, em especial quando estão localizados “ao longo de rotas migratórias e costeiras”.

Qual a solução? Os cientistas sublinham “a importância de escolher a localização acertada para os parque eólicos, evitando as rotas migratórias”, acrescenta a BirdLife. Outra medida proposta é a construção de menos turbinas, mas de maiores dimensões.

Este estudo, publicado na Proceedings Of The Royal Society B, foi realizado com o apoio da BirdLife International, União Internacional para a Conservação da Natureza, RSPB (Royal Society for the Protection of Birds), Centro Mundial de Monitorização da Conservação do Ambiente das Nações Unidas e Universidade de Cambridge.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.